domingo, 29 de setembro de 2019

[Opinião] O Demônio do Meio-Dia - Andrew Solomon #251

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https://www.skoob.com.br/o-demonio-do-meio-dia-2739ed450612.html
Editora: Cia das Letras

N° de Páginas: 577

Quote:

"Sobrevive-se à depressão através de uma fé na vida que é tão abstrata quanto qualquer sistema de crença religiosa. A depressão é a coisa mais cínica do mundo, mas é também a origem de uma espécie de crença. Suportá-la e emergir com o próprio eu é descobrir que algo pelo qual não se tinha a coragem de esperar pode até se tornar realidade."

Sinopse:
  Partindo de sua própria batalha contra a depressão, Andrew Salomon constrói um retrato monumental da doença que assola os nossos tempos. O vasto amálgama de medicações disponíveis, a eficácia de tratamentos alternativos, o impacto do distúrbio nas várias populações demográficas, as implicações históricas, sociais, biológicas, químicas e médicas da depressão: nada fica de fora deste que é um dos maiores tratados já escritos sobre o tema.
  No epílogo inédito à nova edição brasileira, o autor retoma seu percurso, os avanços da medicina e a trajetória dos entrevistados desde a primeira edição do livro, em 2000. Com rara humanidade, sabedoria e erudição, Solomon convida o leitor a uma jornada sem precedentes pelos meandros de um dos assuntos mais espinhosos, significativos e complexos dos nossos dias. Um livro obrigatório para todos aqueles que sofrem ou conhecem alguém que sofre de depressão.

Opinião:
  Minha maior surpresa com esse livro foi ler um texto escrito por uma vítima da depressão, sobre a depressão e ele conseguir me fazer rir em vários momentos.
  Claro que eu bem sei que depressão mata muita coisa na pessoa, mas o senso de humor nem sempre é uma delas.
  Nesse livro o autor vai contar a sua história, ao mesmo tempo em que vai dissecar a doença da melhor forma possível, falando sobre os grupos mais suscetíveis, os diferentes tipos e como, muitas vezes, a medicina convencional não dá a devida atenção e cuidado que os acometidos pela depressão precisam.
"Quando alguém vai a um consultório dizendo que não consegue se alimentar, sente fadiga extrema ou alguma outra coisa relacionada a depressão e o médico lhe diz 'não há nada errado com você, só está deprimido' é o mesmo que ele dissesse à alguém que não consegue respirar 'não há nada de errado com você, é só um enfisema'"
  Transcrevi este trecho de cabeça, marquei tanta coisa nesse livro que meus post-its acabaram antes de chegar ao último quarto dele. O autor também vai tratar sobre medicação e causas da doença, desmistificando muita coisa, falando sobre o circulo vicioso onde a depressão sempre causam os sintomas, mas nem sempre quem apresenta os sintomas tem depressão ao mesmo tempo em que os sintomas podem desencadear uma depressão.
  Ele vai tratar também sobre a importância da fé no tratamento da doença, mesmo que ele mesmo não seja, exatamente uma pessoa muito espiritualizada.
  Ele fala como o preconceito agrava a doença, o autor é homossexual, ou bissexual, parece que nem ele se decidiu 100%, na verdade, e que todo o preconceito que sofreu por isso desencadeou alguns momentos extremamente ruins, ele fala sobre as crises que teve ao mesmo tempo que insere a história de outras pessoas acometidas pela doença, sempre em algum capítulo onde essa história vai  fazer mais sentido.
  Entre tantas e tantas outras coisas ele fala sobre tratamentos alternativos, perguntas, sugestões e ideias idiotas que recebe ou tem com frequência, vai falar também que, embora o suicídio seja a forma mais comum pela qual a depressão ceifa as vidas não é a única, pois uma mente doente torna o corpo doente e acarreta diversas complicações, o livro é bastante instrutivo e didático mas em momento nenhum enfadonho, nem quando ele fala sobre números ou remédios, falando inclusive que a depressão mata mais pessoas do que o câncer o álcool e o trânsito juntos.
  Falando mais um pouco sobre o capítulo onde ele trata de suicídio, ele dá uma romantizada na coisa e eu entendo o porquê, mas acredito que seja um assunto por demais delicado para que ele exalte ao nível de ato heroico e de extrema coragem, esse foi o único problema que eu encontrei no livro. Como disse eu entendo o que fez ele falar dessa forma, por um tempo na minha vida eu também via isso como a melhor saída, mas diferente dele eu e apesar de toda a eloquência dele ao falar do assunto eu ainda vejo, hoje, como um ato de extremo egoísmo e fuga, claro que na grande maioria das vezes esse ato é feito por alguém que não está muito bem, ou nada bem, melhor dizendo, e essas pessoas precisam de ajuda, respeito e, o que é mais difícil, compreensão, o pior é que muitas vezes essas pessoas não sabem que precisam, não dizem que precisam ou não aceitam ajuda, por isso ainda é um assunto muito delicado e que deve ser mais conhecido para que o impacto da doença não seja agravado pela ignorância da sociedade. Neste capítulo ele também fala como participar do suicídio assistido de sua mãe colaborou para o desenvolvimento da doença nele e como o fez ver que esse é também um direito dele, quando ele achar que chegou a hora.
  Sobre a edição, não há muito o que falar, encontrei alguns poucos erros na revisão, o livro não tem orelhas, mas tem uma arte de capa lindíssima, como vocês podem ver pela foto, trazendo a pintura Céu Estrelado, do Van Gogh, que é provavelmente a mais notória vítima da doença. A fonte é quase pequena demais, o espaçamento é escasso e os capítulos são imensos, apesar de tudo isso a escrita do autor é fenomenal e muito fluida.
  É sem dúvida um livro muito instrutivo que todos deveriam ler, com cuidado no capítulo sobre o suicídio que pode acabar encorajando algumas pessoas, ainda tenha pensamentos intrusivos mas consigo descarta-los com facilidade, mas foi um alvoroço na minha cabeça enquanto lia este capítulo então... cuidado.
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quarta-feira, 25 de setembro de 2019

[Marca Texto] Matéria de Memória - Carlos Heitor Cony

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  Vamos tirar um pouco o atraso dos Marca textos, hehe. Dessa vez trago uma reflexão que tive durante um trecho desse livro, vocês já devem ter percebido que Cony está galgando para a minha lista de autores favoritos, certo? Pois é...






"Se meus amigos soubessem  do que sou capaz, do que fui capaz - ninguém me estenderia a mão. Mas estendem a mão ainda, um pouco de respeito, de ironia, mas estendem a mão, podem me desprezar por outros motivos, mas ignoram do que fui capaz."







    Esse trecho, nesse livro bem escrito e com personagens tão detestáveis, me fez pensar naquela frase dita por Spurgeon: "Quando alguém falar mal de você não fique chateado, você é bem pior do que eles imaginam". Também lembrei da frase dita por uma personagem do seriado SAFE: "Eu descobri [...] que ninguém conhece ninguém de verdade."
  Além disso, me fez pensar em algo que essas três frases têm em comum: elas mostram que não temos como saber tudo sobre alguém, é difícil saber tudo sobre nós mesmos, imagina sobre os outros. A contagem de esqueletos em armários supera a capacidade de qualquer instituto de estatísticas.

domingo, 22 de setembro de 2019

[Opinião] O Sentido de Um Fim - Julian Barnes #250

https://www.skoob.com.br/o-sentido-de-um-fim-245138ed888367.html
Editora: Rocco (Edição exclusiva TAG: Experiências Literárias)

N° de Páginas: 175

Quote:

"História é aquela certeza fabricada no instante em que as imperfeições da memória se encontram com as falhas de documentação"

Sinopse:
  Tony Webster vive em Londres. Um dia, recebe uma pequena herança e o fragmento de um misterioso diário de um de seus melhores amigos, Adrian Finn, que cometeu suicídio aos 22 anos. A partir dessa lembrança, Webster revisita sua juventude na Inglaterra dos anos 1960 e tenta decifrar os escritos herdados, confrontando sua própria memória, a inexata versão dos fatos e o seu papel na cadeia de eventos que resultou na morte do brilhante amigo Adrian.

Opinião:
"E a vida é isso, não é? Algumas realizações e algumas decepções. A mim parece interessante, embora não reclame ou me espante se outros não concordam muito com isso. Talvez, de certa forma, Adrian soubesse o que estava fazendo. Mas eu não perderia a minha vida por nada, entenda bem.                                                                                                                                         Eu sobrevivi. 'Ele sobreviveu para contar a história' - é assim que as pessoas falam, não é? A história não se resume às mentiras dos vencedores, como um dia afirmei com tanta desenvoltura ao Velho Joe Hunt; eu sei disso agora. Ela é feita mais das lembranças dos sobreviventes, que, geralmente, não são nem vitoriosos nem derrotados"
  Cento e Setenta e Cinco páginas de pura qualidade.
  Confesso que o que me chamou a atenção nesse livro foi o título, não conhecia o autor e achei a capa bem aquém do padrão de beleza que a TAG costuma seguir, mas confiei, e não me arrependo. Como falei na postagem anterior, esse é, com certeza, um livro que estará na lista dos melhores do ano.
  Uma das coisas que me fez gostar desse livro, dentre tantas outras, é o fato de que ele tem alguns elementos que me fez lembrar de outros livros que gosto muito, por exemplo, no começo temos um grupo de grandes amigos muito inteligentes, o que me fez lembrar dO Incolor Tsukuru.
  Esse grupo de amigos tem suas conversas existenciais sobre o sentido da vida e filosofam sobre o significado das coisas, o que compõe a vida... esse tipo de coisa, essas conversas não são muito longas, então mesmo que você não curta essas coisas mais filosóficas isso não vai te incomodar, a vida vai seguindo e há o suicídio de um dos amigos, eles filosofam um pouco sobre a brevidade e falta de valor da vida, até descobrirem que o que motivou o garoto foi o fato de ele ter engravidado a namorada e ter medo da responsabilidade.
  Algum tempo depois nosso protagonista, Tony, começa a namorar uma garota... estranha, para não usar palavras ofensivas, okay, estou sendo injusto, ela não é uma personagem tão odiosa, pelo menos não no início, esse relacionamento acaba não dando certo e Veronica (como se chama a fulaninha) começa um relacionamento com Adrian, o mais inteligente e visivelmente detentor do mais promissor futuro dentre os amigos.
  A partir desse ponto as coisas começam a acontecer de forma mais acelerada, os anos passam, pessoa morrem, outras se afastam e perdem contato, novos personagens aparecem, ocorrem casamentos, novos personagens nascem e chegamos então na segunda parte do livro, com Tony já sendo um homem de meia-idade, feliz com a sua vida mas com algumas pendências com o passado. Vivendo sozinho ele tem algumas amizades íntimas e seu mundo é chacoalhado com uma ligação que vai ser responsável por fazer ele repensar a sua vida, entrando agora em um túnel de lembranças das agradáveis às dolorosas passando pelas que haviam se perdido.
  É um livro fenomenal que, mesmo sendo curto, vai tratar profundamente de temas como o amadurecimento, arrependimento e solidão, vai falar sobre o poder da memória e de como ela, muitas vezes, é diferente do que realmente aconteceu, preenchendo as lacunas com invenções.
  Um livro que não desperdiça uma única linha, um livro que só pode ser descrito como fenomenal (ou algum sinônimo)

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

[Opinião] Quase Memória - Carlos Heitor Cony #249

https://www.skoob.com.br/quase-memoria-711117ed712561.html
Editora: Nova Fronteira (Edição exclusiva TAG: Experiências Literárias)

Nº de Páginas: 269

Quote:

"Prefiro mergulhar na lembrança dele, em tudo o que foi e quis ser. É fórmula covarde para fugir. Diante da memória, sou mais cúmplice do que testemunha."

Sinopse:
  Quase Memória explora o território situado entre a memória e a ficção a partir de um punhado de recordações do narrador-autor. Nelas, a figura de Ernesto Cony, seu pai, é o centro e a motivação para o exercício das lembranças que, constantemente, adquirem contornos do imaginário. Nostalgia, cumplicidade, vergonha, saudade: os mais diversos sentimentos despertados pelo recebimento de um misterioso pacote sem remetente.
  Publicado em 1995, Quase memória marcou a volta de Carlos Heitor Cony aos romances, após um hiato de mais de vinte anos. O livro recebeu importantes prêmios literários no Brasil e, mais do que isso, conquistou o coração de milhares de leitores desde seu lançamento.

Opinião:
  Já vamos deixar uma coisa clara aqui, tanto esse quanto o livro da próxima postagem com toda a certeza vão aparecer na lista de melhores do ano, que inclusive, terá muitas menções honrosas.
  Esse livro marca o retorno de Cony aos romances, depois de um hiato de cerca de 20 anos, e ele retorna com esse que é um livro até difícil de definir a que estilo narrativo pertence.
"Uma quase memória, ou um quase romance, uma quase biografia. Um quase quase que nunca se materializa em coisa real como esse embrulho, que me foi enviado tão estranhamente. E, apesar de tudo, tão inevitavelmente."
"Desde que voltei do almoço não saí daqui, desta sala, desta mesa, deste embrulho no qual não mais toquei. Nem precisava: basta olhá-lo. Se me metesse a escrever um livro sobre o que está acontecendo, alguém acharia nesse embrulho, vindo brutal e inesperadamente do passado, uma referência, associação ou plágio da madeleine de Proust - e aí me cobrariam um romance. E como não há romance, além da pretensão, contatariam o meu fracasso."
  Aqui o Cony (que deu um salto gigantesco para o posto de autor favorito, coisa que ainda será confirmada, depois de eu ler mais livros dele) se coloca como um personagem para poder contar a história da vida de seu pai. E ele faz isso da seguinte forma:
  Cony está almoçando no restaurante de um hotel no qual jamais se hospedou, mas que vai com alguma frequência almoçar, de uma a três vezes por semana, então um funcionário o entrega um embrulho endereçado à ele, ele imagina se tratar de um manuscrito que algum autor iniciante quer que ele leia, mas aí ele percebe que o embrulho não possui remetente, mas o mistério de quem o mandou logo é desvendado pois além do familiar cheiro de manga e brilhantina o embrulho possui características que inculcam nele a certeza de que o tal embrulho foi mandado pelo seu pai... que morreu há dez anos.
  A partir daí mergulhamos em lembranças narradas de uma forma envolvente e emocionante, onde o autor vai mostrar a saudade que sente do pai sem falar em momento algum a palavra em si.
  Essa edição da TAG é linda e traz na capa a imagem de uma manga, fazendo referência a um dos momentos mais hilários do livro, além de trazer uma pequena introdução exclusiva escrita e assinada pelo próprio autor (o livro foi enviado pelo clube em Setembro de 2017, Cony, infelizmente, nos deixou em Janeiro de 2018, aos 91 anos) então eu considero a assinatura dele como um autógrafo u.u
  Apesar de ser uma edição especial, com muita coisa que a torna especial, incluindo a luva que imita o embrulho da história, acho a capa da edição lançada pela Alfaguara (essa à direita) muito mais bonita, e também faz referência a outro belo momento da história.
  Sei que teve um filme baseado nesse livro mas ainda não tive coragem de assistí-lo. O livro faz com que a gente reveja nossa realação com nosso pai, Ernesto Cony não era uma pessoa isenta de defeitos, mas o autor mostra que depois que um pai se vai a saudade é tanta que até os defeitos dele deixam saudade.
  Um livro para acalentar seu coração, ao mesmo tempo em que te faz chorar e rir.
  Há três passagens que gostaria de frisar, para que você lembre de mim quando ler, hehe
1° - A passagem das mangas no cemitério
2° - A passagem do balão (desde a montagem até a intervenção da polícia)
3° - A passagem onde Ernesto fica responsável pelo jornal enquanto os patrões vão para Minas Gerais convencer o governador a concorrer para presidente, passagem essa que eu me revezava rolando de rir, morrendo de indignação e agonizando de vergonha alheia.
  Enfim (acharam que não teria "enfim" nessa postagem, né!), é um livro fenomenal, que vai te divertir, entreter, te fazer refletir além de te dar um belo choque de realidade, entrou fácil para a lista de favoritos da vida.

https://www.skoob.com.br/autor/714-carlos-heitor-cony

domingo, 15 de setembro de 2019

[Opinião] As Últimas Testemunhas - Svetlana Aleksiévitch #248

https://www.skoob.com.br/as-ultimas-testemunhas-790127ed793270.html
Editora: Companhia das Letras (Edição Exclusiva Tag: Experiências Literárias)

N° de Páginas: 315

Quote:

"Primeiro nossa maravilhosa mãe se foi, depois nosso pai. Nós percebemos, sentimos na hora que éramos as últimas. Naquela linha... naquele limite... Somos as últimas testemunhas. Nosso tempo está acabando. Devemos falar... Nossas palavras serão as últimas..."

Sinopse:

  "Não só os orfanatos passavam fome, as pessoas ao nosso redor também, porque entregavam tudo para o front. De crianças pequenas éramos umas quarenta, nos instalaram separadamente. À noite - berros. Chamávamos por mamãe e papai.
  Os educadores e professores tentavam não dizer a palavra 'mãe' na nossa frente. Eles nos contavam histórias e escolhiam os livrinhos que não tinham essa palavra. Se de repente alguém falava 'mãe', na hora começava um chororô. Um choro inconsolável."
  O trecho acima é o testemunho de Zika Kossiak, que tinha oito anos quando a Segunda Guerra Mundial assolou a antiga União Soviética, e foi uma das muitas pessoas esntrevistadas pela jornalista bielorussa Svetlana Aleksiévitch, vencedora do prêmio Nobel de literatura de 2015. Ela conversou com vários sobreviventes que eram crianças durante a guerra e presenciaram horrores que nenhum ser humano jamais deveria experimentar. Os relatos francos desses indivíduos, adultos à época das entrevistas, mas nunca antes ouvidos, são a matéria dolorosa e potente deste livro colossal.

Opinião:
  Só de pensar em falar desse livro já me dói o peito.
  Esse livro completa a trinca de livros que destroem nossa fé na humanidade, trinca essa composta por Enterrem meu Coração na Curva do Rio, do Dee Brown e Todo Dia a Mesma Noite, da Daniela Arbex, além deste, é claro.
  O livro é um conjunto de depoimentos de pessoas que eram crianças na época da Segunda Guerra, pessoas que hoje em dia são as últimas pessoas vivas que viveram aquela época, por isso o nome do livro, elas são pessoas que não tinham voz na época, e muitas perderam a coragem, vontade ou mesmo capacidade de falar sobre os horrores vividos em tão tenra idade.
  A autora passou anos em busca dessas pessoas e recolhendo depoimentos para poder escrever esse livro, Pra quem não sabe, o que é difícil de acreditar, mas vamos lá... a autora ganhou o Nobel de Literatura em 2015 (se não me engano foi 2015) mas ela não se define como uma autora de livros, e sim como jornalista, que inclusive é sua profissão (Assim como Daniela Arbex, duas autoras incríveis e que passam os males de uma tragédia com tanta maestria que faz com que nos sintamos sentados na beira da rua vendo tudo acontecer sem poder fazer nada), e a única coisa que Svetlana faz, segundo ela mesma, é recolher os depoimentos e montar o livro.
  Os depoimentos variam de pessoas que foram atingidas pela Guerra quando tinham três ou quatro anos até pré-adolescentes, de 12 ou 13. E claro que as lembranças de todos são doloridas, mas as daquelas que eram mais novas foram as que mais me pegaram. Como falei no vídeo, é difícil dizer que esse livro é bom, os relatos são contados em primeira pessoa por gente que teve a infância roubada, crianças com menos de cinco anos que sentiram na pele a maldade em seu estado mais forte, como o garotinho que, morrendo de fome, foi atraído pelo cheiro de sopa de ervilha e ganhou um banho de água fervente de um soldado alemão, uma menina que se surpreendeu ao encontrar o corpo de uma mulher, pois acreditava que na guerra só matavam os homens, crianças que eram usadas como banco de sangue para alemães feridos.
  Existem uns poucos casos de final feliz, mas são poucos, porque essa é a realidade, dentre os cem relatos acho que não houveram três que reencontraram os pais quando a guerra acabou, crianças que ficaram órfãs e abandonadas a própria sorte, que cresceram sem saber o próprio nome e ao ver uma mãe com um filho no colo depois do fim da guerra fala, em sua inocência: "tia, me pega no colo".
  Só de lembrar desses relatos as lágrimas voltam aos meus olhos, sei de gente que largou o livro antes da metade pois simplesmente não conseguiu ir até o fim, vi uma resenha onde a pessoa que resenhou chorou por dois dias e decidiu não concluir o livro, eu fui até o final, mas foi extremamente dolorido.
  É sim um livro difícil e que causa sofrimento em que lê, mas se você acha que é um livro que não deveria existir está completamente enganado, é um livro que mostra erros do passado para que não voltemos a cometê-los, um livro que dá o direito de fala a quem tanto sofreu, um livro que vai te tornar mais empático, e chorar copiosamente pedindo perdão a Deus pela humanidade. É um livro extremamente necessário.



quarta-feira, 11 de setembro de 2019

[Opinião] Uns e Outros: Contos Espelhados - Helena Terra e Luiz Ruffato (org.) #247

https://www.skoob.com.br/uns-e-outros-contos-espelhados-692361ed695338.html
Editora: Dublinense

N° de Páginas: 266

Sinopse:
  A ideia do livro foi que dez autores lusófonos escolhessem um conto cada, de um autor considerado clássico, para servir de inspiração para uma releitura original. Desta forma, o debate vai girar em torno das influências literárias, do processo de recriação de obras clássicas e dos efeitos do espelhamento resultante dessa experiência.


Opinião:
  Devo admitir que já não me lembro muito bem dos detalhes de cada um dos contos, incluindo o que abre a coletânea chamado Eveline, do James Joyce, o que faz com que eu não me lembre muito também do seu espelho, o conto A Morte da Mãe, da Beatriz Bracken, algo me diz que ambos se passam no mar, ou no litoral, mas posso estar enganado.
  Depois disso vem um dos contos que mais gostei, O Fim de Algo, de Ernest Hemingway, onde temos um casal que começa a discutir a relação e tem um final que pode ter diferentes interpretações, Luiz Antônio de Assis Brasil escreveu Início de Alguma Coisa, que dá continuidade a história dos personagens de Hemingway e nos mostra uma visão única e surpreendente do conto que o precede.
  Depois temos Os Desastres de Sofia, de Clarice Lispector, que confesso ter sido um conto que me incomodou ele é um caso de interesse entre uma menina e seu professor, mais o interesse dela, pelo menos.
"Não, talvez não seja isso. As palavras me antecedem e me ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito."
  Já no conto espelho, escrito por Eliane Brum e nomeado de Simplício, onde temos a visão do professor, que consegue ser mais perturbador ainda.
"E foi com esse estado de espírito que ancorei naquela manhã, grogue de sono, esquecido da vergonha que eram aquelas lições que eu aplicava ano após ano, escola após escola, como um professor dedicado a desensinar, profanando a língua que eu amara um dia com o ressentimento reservado a uma amante que me renegou sem ao menos ter me amado."
  Chegamos então ao primeiro conto de Machado de Assis, que aparece três vezes nessa coletânea, a primeira com a história Teoria do Medalhão, onde o pai vai discorrer com o filho sobre a vida, o universo e tudo mais, principalmente falando sobre sua visão politizada do mundo.
"Podes resolver a dificuldade de um modo simples: vai ali falar do boato do dia, da anedota da semana, de um contrabando, de uma calúnia, de um cometa, de qualquer cousa, quando não prefiras interrogar diretamente os leitores habituais das belas crônicas de Mazade; setenta e cinco por cento desses estimáveis cavalheiros repetir-se-ão as mesmas opiniões, e uma tal monotonia é grandemente saudável."
    Então vem Milton Hatoum e espelha Machado escrevendo O Futuro Político (Primeiro Ato), esse livro é também um diálogo entre pai e filho, mas diferente do conto do Machado, aqui o filho tem voz e há realmente uma conversa, e não um monólogo do pai.
"- De onde tirou isso? [...] - Tirei do teu discurso inflamado, das citações literárias... Muitos jovens se revoltam sem saber que estão traindo a si mesmos. Um político não deve citar grandes dramaturgos ou poetas, ninguém vai entender... A imensa maioria da nossa classe política é tosca, ignorante e pérfida..." Ele desconhece o conceito de crítica velada

  Vamos então para o conto mais revoltante, que dá vontade de pegar uma das personagens e estapear até essa criatura virar gente, é o conto Negrinha, do Monteiro Lobato, já vi muita gente acusando o autor de racismo, isso antes de eu ler esse conto, mas a meu ver esse conto é muito mais uma crítica ao tratamento sub humano que era desferido aos negros no período da escravidão ou logo depois dele do que uma exaltação a esse comportamento revoltante.
  Ana Maria Gonçalves traz então o tema do racismo aos dias atuais, onde uma criança negra sofre na escola uma nova versão das torturas que a menina do conto de Lobato sofre.
  Machado de Assis aparece novamente na coletânea trazendo o conto Pai Contra Mãe, mas para esse postagem não ficar gigante vou pular justamente para o conto que eu mais gostei, que foi O Colar, de Guy de Maupassant, espelhado pelo Um Simples Engano de Maria Valéria Rezende.
"O que teria lhe acontecido se não tivesse perdido aquele colar? Quem sabe? Quem sabe? Como a vida é esquisita, cheia de mudanças! Basta tão pouca coisa para nos pôr a perder ou para nos salvar!"
  Ambos os contos falam sobre um pessoa que pede algo emprestado de uma pessoa bem mais rica, no conto clássico, como o nome já diz, é um colar, na releitura é um carro, acontece que essa pessoa acaba perdendo, de alguma forma o objeto emprestado. O conto clássico me agradou muito mais por ser mais convincente e transmitir melhor a sensação de que tudo poderia ser resolvido se o protagonista estivesse mais bem informado.
  Enfim, esse é um livro que você não encontra para comprar nas livrarias, é um livro feito exclusivamente para o aniversários de 3 anos da TAG, mas os contos clássicos podem ser encontrados em outros lugares também.
  É complicado falar sobre livro de contos, né minha gente... espero ter transmitido um pouco sobre alguns dos contos, hehe.


domingo, 8 de setembro de 2019

[Opinião] Tempo de Migrar Para o Norte - Tayeb Salih #246

https://www.skoob.com.br/tempo-de-migrar-para-o-norte-775199ed779669.html
Editora: Planeta (Edição exclusiva TAG: Experiências Literárias)

N° de Páginas: 171

Quote:

"Será que era possível evitar algo do que aconteceu? Naquela hora lembrei-me das palavras do padre com quem me encontrei no trem a caminho do Cairo: 'Meu filho, no final das contas, todos nós viajamos sozinhos'."

Sinopse:
  Este romance denso e evocativo, com lances da lírica árabe, narra as viagens e visões de Mustafá Said, dilacerado entre dois continentes. Trata-se de uma complexa sondagem na alma humana, que é também uma reflexão sobre o colonialismo britânico na África e uma crítica implacável aos governantes do Sudão pós-colonial.

Opinião:
  Tendo a gostar bastante dos livros que se passam ou são escritos por autores do oriente médio, e tenho certa fascinação pelo mundo árabe, então depois de me proporcionar a incrível experiência de ler um livro de origem indiana com O Xará e também um de origem iraniana com O Alforje, agora sou levado para o Sudão com esse livro (cujo o kit da TAG me levou a desenvolver um gosto por chá de hibisco com cardamomo).
  Aqui temos um protagonista/narrador sem nome (uma coisa bem Murakami, só que não), que sai do Sudão para estudar literatura na Inglaterra, depois de concluir seus estudos ele volta para a sua vila de origem com o nariz lá em cima, ao chegar ao seu povoado descobre que um certo forasteiro está protagonizando a maioria das conversas de seus conterrâneos, um tal de Mustafa Said.
  Ele então se aproxima de Mustafa querendo saber, "qual é a dele", a princípio ele me pareceu bem invejoso, pois esse cara recebia mais atenção do que ele, um intelectual nativo (e realmente recebia, inclusive do autor, que deu um nome para o dito cujo e não para o protagonista). Mustafa resolve contar sua história para nosso protagonista, por que? Sabe Deus, mas ele resolve se despir de sua aura misteriosa e revelar cada detalhe do seu passado.
  Ficamos então sabendo que Mustafa também é sudanês, e também foi estudar no exterior, primeiro no Cairo e depois na Inglaterra, mas Mustafa era ressentido com os britânicos devido ao colonialismo
de seu país, então ele resolveu engendrar um plano de ação que visava... não sei direito o que ele visava, mas ele ia se aproveitar de toda a sua lábia e aparência exótica para seduzir as mulheres inglesas, mulheres essas que acabavam se suicidando, com exceção de uma.
  Boa parte do livro é a narrativa de Mustafa contando sua história, com todos os detalhes picantes e desnecessários das suas táticas de sedução, e dos seus atos depois que as mulheres já estavam seduzidas, mas depois de contar toda a sua história um novo mistério surge para dar prosseguimento a história, mas o protagonista passa o restante do livro refletindo sobre a história que ouviu, até porque alguns eventos meio que ligam a vida dos dois.
  A narrativa do autor é deslumbrante, ela tem uma cadência meio poética, meio musical, não sei direito como definir, mas é uma delícia de ler. Na revistinha que veio com o livro fala maravilhas do livro, como era de se esperar, entre elas ligações com Otelo e uma incrível demonstração dos costumes árabes e africanos dos anos 1960, além de falar que este é considerado o livro mais importante de língua árabe já escrito.
  Enfim, é um livro que, de uma forma geral, é realmente muito bom, uma história interessante, com pano de fundo histórico e cultural muito acentuado e uma narrativa fantástica, o título também tem seu significado, falando de um povo que não se sente mais em casa na sua própria terra, não sabe pra onde ir nem se deve ir para a algum lugar, um povo que não tem um norte.
 Só tirei uma estrela porque as descrições de coito acabaram me deixando desconfortável em alguns momentos.

https://www.skoob.com.br/autor/24133-tayeb-salih

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

[Opinião] Só Garotos - Patti Smith #245

https://www.skoob.com.br/so-garotos-139622ed765751.html
Editora: Cia das Letras (Edição exclusiva TAG: Experiâncias Literárias)

N° de Páginas: 395

Quote:

"Não satisfeita com minha oração infantil, logo pedi a minha mãe que me deixasse fazer minha própria reza. Fiquei aliviada quando não precisei mais repetir as palavras 'E, se eu morrer antes de acordar, rezo ao Senhor para minha alma levar', e pude dizer em vez disso o que estava dentro do meu coração. Assim liberada, eu me deitava na cama junto ao fogão de carvão recitando vigorosamente longas cartas para Deus. Eu não era de dormir muito e devo tê-lo importunado com minhas juras, visões e esquemas intermináveis."

Sinopse:
  Antes de se tornar famosa, a cantora e poeta Patti Smith dividiu a cama, a comida e o sonho de ser artista com o fotógrafo Robert Mapplethorpe, a quem prometeu escrever este livro, pouco antes que ele morresse.
  Nesta autobiografia afetiva, cativante e nada convencional, Patti reúne fotos, bilhetes e histórias extraordinárias para narrar os altos e baixos na efervescente Nova York dos anos 1960 e 1970 e se tornou ícone de muitas gerações.

Opinião:
  Quando vi as pistas do livro que seria enviado eu já identifiquei como sendo ou esse ou Linha M, mas acreditava que seria esse mesmo.
  Fato é que o livro é tido como uma grande maravilha da literatura contemporânea, o que fez com que eu tivesse grandes expectativas sobre essa leitura, expectativa essa que passou relativamente longe de ser suprida.
  Esse é um livro de memórias, como acredito que todo mundo sabe, livro que a autora prometeu escrever para seu marido em seu leito de morte, a ideia era contar a história deles mas ela começa bem antes, com a infância da autora, onde acabamos nos afeiçoando a ela com seu jeito sonhador e determinado, ela foi atrás do seu sonho, de forma bem inconsequente e inegavelmente irresponsável, isso é inegável, ela teve muita sorte em conseguir, mas sua determinação tem sim seu mérito.
  Mas vamos ao ponto onde as coisas começaram a degringolar quando ela conhece Robert, na verdade não quando conhece, as coisas degringolam algum tempo depois, quando Robert acredita que precisa experimentar DE TUDO, e eu não estou brincando quando digo tudo, não é só a curiosidade de experimentar drogas, o que já seria um problema, mas ele resolve experimentar diferentes experiências sexuais e também rituais macabros.
"Ambos rezávamos pela alma de Robert, ele para vende-la e eu para salvá-la"
  Então, o meu problema com o livro foi a personalidade de Robert, ele não era apenas inconsequente e irresponsável em um nível dez vezes maior  do que a Patti, ele também é... nem sei direito como qualifica-lo, não teria um problema se ele tivesse uma opção sexual que o fizesse abandonar a esposa para se juntar com um cara, mas ele faz isso só para experimentar, e depois resolve simplesmente abandonar o cara e voltar pra esposa, o senso de respeito ao cônjuge ou namorado simplesmente não existe para ele.
  Ele resolve se envolver com ocultismo, satanismo e magia negra simplesmente porque achou interessante, ignorando toda e qualquer responsabilidade, fazendo tudo de forma infantil e, usando novamente a palavra, irresponsável. E esses extremos são simplesmente para ilustrar, ele levava tudo na vida com a mesma falta de juízo.
  A escrita da autora é realmente bela e a história em si é interessante de acompanhar, mas além de mostrar uma Nova York de outra época, uma busca desenfreada e desajuizada pelos sonhos e um relacionamento... difícil de definir.
  Se eu acho que vale a leitura? Com certeza, como disse a história é interessante de acompanhar, apesar de ambos serem personagens complicados e a autora se mostre meio... não seria apática a palavra, mas ela não toma uma atitude decisiva nem quando Robert começa a se tornar sombrio e aparentemente violento depois de tanto envolvimento com ocultismo e forças de outro mundo.

  Ah, fui atrás das músicas da autora para conhecer, e na verdade só gostei realmente de uma, vou deixa-la aqui para que conheçam também, como disse curti a escrita dela e pretendo ler mais alguma coisa, mas não tenho muita pressa.

https://www.skoob.com.br/autor/5510-patti-smith

domingo, 1 de setembro de 2019

[Opinião] O Alforje - Bahiyyih Nakhjavani #244

https://www.skoob.com.br/o-alforje-754403ed757763.html
Editora: Dublinense (Edição exclusiva da TAG: Experiências Literárias)

Nº de Páginas: 328

Quote:

"No breve momento que antecede morte, ele entendeu que, se conseguisse pelo menos apreender o sentido daquelas palavras que o chamavam, seria sempre livre. Com uma doçura cortante, que interrompeu seu último alento, a voz do mercador chegou até ele, cantando. A voz do mercador invocava a misericórdia de Deus. Ele estava rezando em nome do Ordenador que perdoa os pecados. Rezando por ele."

Sinopse:
  Ao contrário do que se diz, o deserto é um território fértil. Ao menos para Bahiyyih Nakhjavani, que, a partir de uma trama complexa, faz convergir nas areias árabes um grupo de personagens que têm suas trajetórias costuradas por um misterioso alforje. Uma noiva que viaja para encontrar o futuro marido, um padre em peregrinação, um beduíno de alma livre e uma escrava falacha são alguns dos retratos que a autora pinta com maestria e profundidade. Ainda que tenham origens, crenças e desejos muito diferentes, todos os viajantes terão a vida transformada pelas escritoras sagradas.

Opinião:
  Esse livro foi uma das experiências marcantes dentre as que me foram proporcionadas pelo clube. Pra quem sabe da existência do canal no youtube viu que postei um vídeo fazendo meu TOP10 dos livros da TAG, e resolvi falar sobre esses livros, e como a Kelly disse que preferia por escrito (obrigado, opiniões em vídeo são complicadas) as próximas postagens serão sobre esses livros na ordem que eu os li (exceto O Xará e O Sonho dos Heróis, que já tem postagem sobre eles).
  Enfim, voltando ao porquê desse livro ter me marcado tanto, um pouco por tudo que aconteceu na minha vida enquanto eu lia, o cheiro do brinde ficou gravado nas minhas narinas até hoje e sempre que eu penso em perfume eu lembro desse livro. além disso ele foi o único livro de autor iraniano que li até hoje.
  Como se não bastasse tudo isso, o livro tem uma forma de narrativa que nunca vi igual. A história é basicamente uma caravana atravessando o deserto, uma tempestade e um bando de ladrões, essa é a história, que será contada por nove pontos de vista diferentes, vou começar falando que a minha favorita foi a escrava.
  Ao contrário do que você pode imaginar, o livro não se torna repetitivo a ponto de ser enfadonho, cada personagem age de forma diferente, as histórias se cruzam, até porque todos estão em algum lugar dessa tempestade, a autora faz questão de nos apresentar cada personagem, esmiuçando seu caráter e nos deixando a par de suas histórias, fazendo com que desenvolvamos sentimentos pelo personagem antes de ele ser colocado em contato com o dito alforje, todos os nossos nove protagonistas terão o alforje em suas mãos em algum momento, cada um terá uma percepção diferente de seu conteúdo.
  A forma que a autora desenvolve e dá uma voz diferente e tão particular para cada um dos personagens faz com que nos envolvamos na história, sofrendo com alguns e desejando uma morte lenta e dolorosa para outros.
  É um livro que trata de crenças, lealdade e de como cada pessoa interpreta um mesmo evento de formas diferentes. Consegue fazer uma história relativamente longa, que se passa quase que exclusivamente no meio do deserto, ser incrivelmente envolvente e cativante.
  Um livro que sai do comum, apresenta uma cultura diferente e encantadora além de entreter quem gosta de aventura, de mistério e também aqueles que adoram uma história cheia de mortes. Só tirei uma estrela pois é um livro incômodo em alguns momentos.

https://www.skoob.com.br/autor/23043-bahiyyih-nakhjavani

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