Editora: Publicação independente
N° de Páginas: 240
Quote:
As pessoas são textos em busca de abreviação. Elas começam dizendo mais do que precisam, depois se dão conta de que podem dizer menos."
Sinopse:
Um retorno à cidade de Cristina, interior do sul de Minas Gerais, faz ressurgir lembranças e uma voz que ninguém pôde ouvir.
"Eu queria ter o brio de um filósofo ou a inocência da mocidade para voltar a ver na finitude uma curva, um nó do tempo. Assim, a agonia poderia descansar e a memória deixaria de ser um lugar tão impiedoso às revisitações.
Caso alguém tenha descoberto esta escritura é porque cumpriu-se um desejo. Toda palavra quer romper o papel e ser lida, quer trair quem a colocou aqui e correr em direção a outros olhos, que possam entendê-la melhor e ver sentidos além dos planejados. Quem tira a palavra do silêncio não sabe do que ela é capaz. Há quem diga que ela pode sempre menos do que pensamos, que ela nunca alcançará a realidade plenamente. Mas a palavra quer sempre mais do que nós podemos dar."
Opinião:
Nota mental: não esperar vários meses pra vir falar de um livro por aqui.
Se eu ler algo enquanto o Hiattos estiver em hiato vou deixar sem postagem, ainda que existem livros onde vários detalhes continuam bem vívidos na memória mesmo depois de um bom tempo, e felizmente esse é um deles.
Esse livro é uma auto ficção, onde o autor pega uma viagem que fez a Cristina, cidade onde passou a infância e começa a criar, ele conhece alguns parentes distantes e logo é confrontado por um mistério, ao rever a casa de seu avô, um cômodo secreto guardando objetos misteriosos, logo os membros da família se empenham em descobrir o que está tão bem guardado.
"Caso alguém tenha descoberto esta escritura é porque cumpriu-se um desejo. Toda palavra quer romper o papel e ser lida, quer trair quem a colocou aqui e correr em direção a outros olhos, que possam entendê-la melhor e ver sentidos além dos planejados. Quem tira a palavra do silêncio não sabe do que ela é capaz. Há quem diga que ela pode sempre menos do que pensamos, que ela nunca alcançará a realidade plenamente. Mas a palavra quer sempre mais do que nós podemos dar."Lá os personagens encontram um livro e um diário, e a partir daí somos jogados vários anos no passado e os personagens começam a acompanhar a vida de um antepassado recente, suas lutas, trabalhos, amores e desafios. Essa parte é muito envolvente e quero realmente que tenham o prazer de se deliciar a cada página com a forma que o autor (que já era um dos meus favoritos) narra essa história, não apenas por saber empregar termos eruditos e formar passagens belas, mas pela imaginatividade, e a capacidade de criar cliffhangers em situações cotidianas, em conseguir dar uma bela virada de mesa onde nem sequer percebíamos que havia uma mesa para ser virada.
"Por outro lado, será que alguém tem o privilégio de descer a esse mundo se que já esteja às suas costas uma terra prenhe de cadáveres. Uma lágrima precede cada sorriso, não vemos as árvores caídas, com suas raízes levantadas do chão. Não sentiremos as feridas que a luz não alcança. Nenhum de nós dá voz ao pó, que nos ameaça sufocar em eterna penitência."Acredito que a mensagem principal, a mais visível, por assim dizer, porque há vários ensinamentos mesmo nas entrelinhas, é que estamos onde estamos, em boa parte, pelo esforço de quem veio antes, e devemos reconhecer isso, a vitória da qual desfrutamos hoje é da luta que foi travada pelos nossos pais e avós antes mesmo de nascermos, e devemos continuar lutando para que quem vier depois também tenha o que desfrutar, somos ramos de uma árvore, e devemos sempre lembrar da importância da raiz e do caule.
"O tempo e a lembrança produzem carunchos que se localizam somente naquelas lembranças de que tentamos esquecer, e ali nos corroem, como se nos clamassem, pedindo que não nos esqueçamos. Não nos esqueçamos! É só isso o que pedimos a nós mesmos, secretamente. Talvez a memória não nos assombre se atendermos a esse pedido."É um livro fenomenal, e mesmo assim não é a melhor coisa que o autor já escreveu, ele escreveu meio que às pressas para poder participar de um concurso, enquanto O Deserto dos Meus Olhos foi escrito em, se não me engano, quatro anos, esse foi escrito em poucos meses, mas não tem nenhuma característica de uma história escrita às pressas, pelo contrário, é uma história fluida que parece ter sido concebida com muito tempo de estudo.
Leon Idris é um jovem com um futuro brilhante no meio da literatura nacional, ele tem alguns contos publicados também, você pode dar uma olhada clicando aqui ou aqui.