terça-feira, 12 de agosto de 2014

[Opinião] A Graça da Coisa - Martha Medeiros #82


Editora: L&PM

N° de Páginas: 215

Citação:
Admitir um fracasso não é o fim do mundo. É apenas a oportunidade que você se dá de estacionar seu carro numa vaga mais ampla e que está logo ali em frente, disponível."

Sinopse:
  "A gente é a soma das nossas decisões."
  É uma frase da qual sempre gostei, mas lembrei dela outro dia em um local inusitado: dentro do supermercado. Comprar maionese, band-aid e iogurte, por exemplo, hoje requer o que se chama por aí de expertise. Tem maionese tradicional, light, premium, com leite, com ômega-3, com limão. (...)
  Assim como antes era mais fácil fazer compras, também era mais fácil viver. Para ser feliz, bastava estudar (Magistério para as moças), fazer uma faculdade (Medicina, Engenharia ou Direito para os rapazes), casar(com o sexo oposto), ter filhos (no mínimo dois) e manter a família estruturada até o fim dos dias. Era a maionese tradicional.
  Hoje existem várias "marcas" de felicidade. Casar, não casar, juntar, ficar, separar. Homem e mulher, homem com homem, mulher com mulher. Ter filhos biológicos, adotar, inseminação artificial, barriga de aluguel - ou simplesmente não os ter. Fazer intercâmbio, abrir o próprio negócio, tentar um concurso público, entrar para a faculdade. Mas estudar o quê? (...)
  A vida padronizada podia ser menos estimulante, mas oferecia mais segurança, era fácil "acertar" e se sentir um adulto. Já a expansão de ofertas tornou tudo mais empolgante, só que incentivou a infantilização: sem saber o que é melhor para si, surgiu o pânico de crescer.
Trecho da crônica "Medo de errar"
Opinião:
  Já tem um tempinho que venho falando desse livro, levei cerca de um mês para lê-lo, levava-o bem na maciota, querendo que durasse eternamente, isso pode ser facilmente explicável...
   Sou antissocial por opção, prefiro ficar sozinho do que sair com uma turma, parte disso é a falta de fé na humanidade, aquele drama sabe? e ler esse livro foi como ter mais alguém conversando comigo. Posso dizer que o livro é dividido em três partes, apesar de não ter nada informando isso, nas primeiras crônicas é como se ela chegasse e falasse: "Minha esperança na humanidade também está abalada, mas ainda existem seres humanos que são... bem, humanos! Deixe-me dar alguns exemplos enquanto intercalo com assuntos interessantes que podem lhe interessar." Na segunda parte ela começa a falar sobre assuntos variados, nos fazendo ver a graça de algumas coisas e nos mostrando também que certas coisas não tem graça, ela me deu uns tapas na cara quando falou sobre a solidão auto-imposta, falando dos pontos negativos dessa situação, mas na crônica seguinte ela fala também das vantagens de se estar sozinho, em alguns momentos, não o tempo todo, mesmo na hora de criticar algum assunto ela leva em conta que não sabemos todas as razões que levaram àquela situação, ela mostra um respeito e compreensão exemplares. Já na terceira parte ela meio que fala: "Agora já nos conhecemos, já te mostrei a graça de muitas coisas, vou continuar falando sobre cotidiano mas vou também acrescentar minha indignação sobre alguns assuntos, não se espante se eu parecer agressiva, só estou com raiva." E fala com uma certa alteração sobre assuntos que a incomodam, no melhor estilo: sei que não sei todos os motivos que levaram a isso mas estou indignada do mesmo jeito.
  Martha Medeiros é de uma sensibilidade e inteligência admiráveis, claro que ninguém é perfeito nem sabe de tudo, algumas crônicas da última parte citada me irritaram um pouco mas como posso reclamar se 98% do livro ela me confortou? Será que devo jogar 98% de aproveitamento fora dizendo que o livro é ruim por causa de 2% que não gostei? Acho que não...
  Esse com certeza é o livro que mais me pareceu "humano", foi como estar conversando com alguém, com opiniões fortes e sem medo de represálias ela critica, entre outras coisas, a impunidade e a corrupção, não apenas de políticos (que todos adoramos criticar mas continuamos escolhendo tolamente) mas também a corrupção na educação, nas relações humanas, corrupção do pensamento e até na religião, algo que infelizmente vem crescendo ("E por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará" MT 24;12).
  Citando exaustivamente diversos livros, peças, músicas e filmes a autora deixa claro sua fascinação, e conhecimento, das artes. Várias crônicas são direcionadas principalmente, se não exclusivamente, à mulheres, mas nem isso me incomodou.
  Um livro inteligente, escrito com uma força impecável, com certeza relerei (corretor ortográfico não disparou então essa palavra deve existir) este livro muitas e muitas vezes, ah, sim! Não posso esquecer da frase que ela usa para defender os livros de auto-ajuda: "Nenhuma leitura deve ser menosprezada por ter sido útil." O que não me fez ter mais vontade de ler esse tipo de coisa mas diminuiu meu preconceito.

19 comentários:

  1. Queria tanto ler, mas tudo parece tão difícil ultimamente. Não ando tendo tempo para nada. ://

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    1. Sempre digo que tempo é algo relativo, mas as vezes realmente é complicado...

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  2. Não consigo ser Anti-Social, sou extravagante e espontâneo demais. RsRs
    Meu, pela sua resenha, esse livro é só mais um exemplo do que deve ser um livro para o leitor, um livro que enxerga a natureza humana como ela é, onde a autora parece ter escrito primeiramente para ela, onde ela não teve medo de sair de sua passividade e se colocou como ativa. Curti muito.

    http://gabryelfellipeealgo.blogspot.com.br/

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    1. Eu, na verdade, me socializo muito bem... mas prefiro não fazê-lo u.u
      O livro realmente é muito, muito bom.
      Que bom que gostou ;)

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  3. Olá, Rudi, tudo bem?
    Sobre a sua pergunta: se você comprar o livro ele irá SIM autografado e com dedicatória. :)

    Beijos,
    Nina & Suas Letras

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    1. :)
      Se quiser o seu exemplar envie um e-mail para ninaesuasletras@hotmail.com que te passo as instruções. :)
      Beijos...

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  4. Oi Rudi!
    Eu nunca li nada da Martha, mas há algum tempo venho querendo mudar isso... Quem sabe eu não começo por esse livro?! ;)

    http://maisumapaginalivros.blogspot.com.br/
    Mais Uma Página

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    1. Também foi o meu primeiro contato com a autora... já até comprei outro livro dela para continuar ^^

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  5. Acredita que eu nunca li um livro dessa autora?
    Mas confesso que só a citação me ganhou e sua resenha animada contribuiu muito para isso. Preciso mudar essa situação de não conhecer o trabalho da Martha.

    memorias-de-leitura.blogspot.com

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    1. Eu sempre via esse livro e achava a capa tão legal, mas nunca tinha vontade de ler, estou muito feliz por mudar isso ^^

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  6. Rudi, eu tbm tenho um certo preconceito com livros de auto-ajuda, e sei que um dia vou precisar dar uma chance para que algum deles me cative, assim como aconteceu com vc nessa leitura. Sempre leio muitos elogios à Martha, mas nunca li nada dela. Tinha no Kobo o "Doidas e santas", mas como ele quebrou, não cheguei a lê-lo :(
    Gostei dessa ideia que vc passou do livro, como se ele falasse com o leitor. No fundo, eu tbm sou um pouco antissocial, e acho que ele seria bom pra mim nesse sentido. Vou adicionar as leituras futuras.
    Bjos!

    http://seiqueeusei.blogspot.com.br/

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    1. Na verdade ele não é auto-ajuda. Ele é um livro de crônicas (eu passei a impressão de ele ser de auto-ajuda? Ai meu Deus!!!!) esse foi o primeiro livro que li dela, mas já decidi que quero os outros, pelo mewnos os de crônicas :)

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  7. Oi Rudi, tudo certo rapaz?
    Olha, de primeira impressão esse livro me pareceu um daqueles auto-ajuda de "em busca da felicidade", mas nunca julguei um livro pela capa, e não vou fazer isso. Mesmo após essa resenha maravilhosa e seu favoritismo, eu certamente não irei lê-lo, mas não pense que é por preconceito, o problema é que minha lista de leitura está imensa, haha.
    Que a força esteja com você!
    http://www.paradageek.com/

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    1. Caramba... difícil te agradar hein cidadão... XP
      Eu nunca achei que ele fosse auto-ajuda (o que não é) pela capa ou título, mas quando eu via que era de crônicas largava mão de comprá-lo. As primeiras crônicas que li foi as desse livro e gostei bastante... o negócio de auto-ajuda é apenas uma crônica na qual ela fala que uma mulher viu ela lendo auto-ajuda e disse achar estranho, mas o livro em si não tem nada de "vamos que você consegue"

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  8. Excelente resenha! Eu sou suspeita, adoro tudo que a Martha escreve e ainda não conhecia esse. Com certeza vou ler o mais cedo possível...

    Beijos!

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  9. Li, adorei e super recomendo, aliás amo tudo que a Martha Medeiros escreve. texto simples e direto. Abraço!

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    1. Também adorei, já providenciei outro livro dela aqui pra ler em breve

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