segunda-feira, 13 de março de 2023

[Opinião] Sombras Marcadas - Kamila Shamsie #400

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Editora: Alfaguara

N° de Páginas: 398

Quote:
"Dos que estavam perto, ela esfolou até os ossos, então só ficaram os esqueletos. Dos que estavam mais longe, ela descascou a pele, como se fossem uvas. E agora que têm essa Nova Bomba os americanos não vão desistir até que todos nós viremos esqueletos e uvas."

Opinião:
  Ah, que delícia de livro, adorei que ele ficou em posição de destaque como sendo a postagem de opinião número 400, já que foi uma das melhores leituras que fiz no ano, até o momento, mas acho difícil que surja tanta coisa com potencial de tirá-lo dessa lista.
  Aqui conhecemos Hiroko e Konrad, ela japonesa, ele europeu, não tenho certeza agora se ele é alemão, francês ou inglês. Eles estão em Nagasaki, estão apaixonados e vão se casar, assim que a guerra acabar de fato, ela já está nas últimas, eles sabem disso, já consideram o eixo como derrotado e se resignaram desse fato, ainda ocorrem bombardeios ocasionais, inclusive Hiroshima foi dizimada pela Nova Bomba há poucos dias.
  Mas então uma das "Novas Bombas" cai sobre Nagasaki, destruindo a cidade, desintegrando Konrad, matando toda a família de Hiroko e a deixando a beira da morte e com marcas que carregará, não apenas na mente mas também no corpo, para toda a vida.
  Hiroko ainda vive no Japão por cerca de um ano, mas cansada de ser tratada como hibakusha, a palavra usada para se referir aos sobreviventes da bomba atômica, mas não é algo muito lisonjeiro, considerando os riscos de radiação e o preconceito decorrente disso. Hiroko Tanaka resolve então ir para a Índia, na época ainda uma colônia britânica, para conhecer Elizabeth Burton, a meia-irmã alemã de Konrad, as duas logo viram amigas e Hiroko começa a desenvolver sentimentos por Sajjad, o criado indiano da família Burton.
  Em uma viagem, em agosto de 1947, depois que Hiroko e Sajjad se casaram, o clima político da Índia entra em colapso, os ingleses desocupam o país, uma guerra civil começa entre muçulmanos e hindus e acontece a partição, dando origem ao Paquistão, que é onde Hiroko passará a viver, já que por Sajjad ser muçulmano eles não podem retornar a Déli, que fica na parte que ainda ficou sendo a Índia.
  A maior parte do livro vai se passar no Paquistão, será nesse país que Hiroko vai criar sua família, casada com Sajjad e criando o filho Raza, que herda seu talento natural para aprender línguas. Raza também vai se tornar um protagonista do livro, vamos acompanhar não apenas seu crescimento, mas também suas aventuras, seu envolvimento com companhias que não deixarão sua mãe muito feliz e também sua amizade com Harry, o filho de Elizabeth Burton.
  A trama narra uma Hiroko decidida a não ser definida pelos desastres que acontecem em sua vida e sempre lutando para que a vida continue, a despeito dos problemas, alguém que faz seu próprio destino e, embora seu passado faça parte de quem ela é não é tudo o que ela é. Acompanhamos também choques culturais e geracionais.
  Raza é uma personagem cativante, que mesmo quando age de forma irresponsável, colocando a si mesmo em perigo ficamos torcendo para que supere, porque inteligência pra isso ele tem de sobra.
  Cercados sempre pelo medo, no Japão por causa da bomba, no Paquistão devido às revoluções e nos Estados Unidos mais tarde devido ao terrorismo, vestindo rótulos que desprezam mas dos quais não conseguem se desfazer essas personagens traçam seu caminho pela vida, ora com suavidade e controle, ora lutando desesperadamente contra a correnteza, mas sempre com determinação e tentando fazer seu melhor.
  Ao final da leitura percebemos que saímos mudados, seja pela determinação de Hiroko, o espírito aventureiro de Raza, a força de Sajjad, a disciplina de Herry, ou  mesmo o deboche de Elizabeth. A autora constrói os personagens de forma que o leitor não consegue passar incólume, e não deixa os acontecimentos da narrativa para trás, é um livro extremamente envolvente e apaixonante, que ao terminar você com certeza vai querer mais. Não amei o final, inclusive, gostaria que o livro tivesse mais páginas...





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