terça-feira, 12 de abril de 2016

[Opinião] Flush: Memórias de um Cão - Virgínia Woolf #177

Editora: L&PM Pocket

N° de Páginas: 140

Citação:
O nariz humano é praticamente inexistente. Os maiores poetas do mundo não sentiram cheiro de nada além de rosas de um lado e de esterco do outro. As infinitas graduações entre as duas substâncias não foram registradas. Ainda assim, era no mundo dos cheiros que Flush vivia a maior parte do tempo.''

Sinopse:
  Se é preciso uma escritora que alterou os rumos da narrativa do século XX, o nome dela é Virgínia Woolf. Nascida numa família de intelectuais ingleses, a partir da década de 20 se tornou uma importante crítica literária e figura central do grupo de Bloomsbury. Através da sua obra ficcional e da sua atitude, Virgínia liberou amarras que restringiam as mulheres da sua época, tornando-se um dos nomes importantes do movimento feminista. Lançando mão de experiências modernistas de autores como Marcel Proust e James Joyce, penetrou na psicologia e na mente dos personagens como nunca até então. Entre outros, escreveu Mrs. Dalloway (1925), Ao Farol (1927) e Orlando (1928), considerados marcos do romance moderno. Flush é seu livro mais bem-humorado e que mais obteve sucesso entre os leitores quando seu lançamento, em 1933.
  Em Flush Virginia expande as suas experiências com os processos da mente, apresentando os mistérios e aventuras da existência vistos através dos olhos de um cocker spaniel. O gênio criativo da escritora garantiu a essa inusitada ideia uma execução de virtuose: o livro agrada tanto aos amantes de cães quanto aos admiradores da autora - uma das vozes literárias mais revolucionárias do século XX.

Opinião:
  A um bom tempo tinha curiosidade de ler algo da tão aclamada Virginia Woolf. Vi esse livro a venda e me surpreendi, pois com toda a fama da autora nunca tinha ouvido falar dele, vi na quarta capa, em letras garrafais : ''Uma obra de Virginia Woolf cheia de humor e graça'', então considerando a autora, a capa essa frase e o fato de ser sobre cachorro, não pensei duas vezes, já garanti o meu, e que bom que o fiz.
  Antes de falar do livro vamos conversar sobre como ele foi escrito. Virginia teve acesso a cartas trocadas entre dois grandes poetas (Robert e Elizabeth Browning), e nas cartas escritas pela moça ela citava as peripécias de seu belo cocker de estimação, baseada nessas cartas e no conhecimento que tinha da vida dos poetas elas criou sua história, ou seja, nem tudo aqui é ficção.
  Elizabeth ganha Flush de uma amiga da família em um período em que se encontrava doente, o cão lhe trouxe nova força e alegria na vida, mas a doença e a depressão sumiram de vez quando começou a se encontrar com Robert, que inicialmente não foi muito aceito por Flush.
  A obra é realmente bem-humorada e nos faz dar sorrisinhos em diversos momentos (o senso de humor erudito do século passado não é tão forte a ponto de nos fazer gargalhar), como o primeiro encontro entre Flush e Elizabeth:
"Os dois se surpreenderam. Cachos pesados pendiam das laterais do rosto da Senhorita Barret; grandes olhos espertos brilhavam; uma grande boca sorria. Orelhas pesadas pendiam das laterais do rosto de Flush; seus olhos também eram grandes e inteligentes; sua boca estava aberta. Havia algo de comum entre os dois. Enquanto encaravam um ao outro, pensaram: aqui estou eu.''
 Apesar de ser uma história divertida sobre a vida de um cão com um final de cortar o coração a autora não perdeu a chance de criticar as posições sociais, usando as raças caninas para mostrar como a nobreza e a plebe eram (são, na verdade) tratadas de forma diferenciada.
  Um livro curtinho, bem-humorado e gostoso de ser lido que traz uma pungente mensagem sobre discriminação social e maus tratos aos animais.


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