terça-feira, 31 de janeiro de 2023

[Opinião] Arrastados - Daniela Arex #392

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Editora: Intrínseca

N° de Páginas: 328

Quote:
"Perguntei aos especialistas que entrevistei se o ciclo de tragédias se encerraria em Brumadinho. Ainda não há respostas para isso. Enquanto o modelo de negócio não mudar e a política da mineração priorizar o produto, em vez da vida humana, não haverá lugar seguro para ninguém."

Opinião:
  Depois de muito tempo sem ler um livro desgraceira da autora achei que estava na hora de pegar este. Ele estava no meu radar desde que soube que a autora estava escrevendo sobre o desastre de Brumadinho, mas como demorei para me recuperar do livro dela sobre a boate Kiss fiquei postergando, o empurrão final para eu finalmente lê-lo foi a estreia da série de Todo Dia a Mesma Noite, na Netflix, que tentei assistir, mas desisiti no primeiro episódio por perceber que nao precisava sofrer de novo com aquela história... poderia sofrer com esta.
  Seguindo os mesmos moldes que utilizou no livro sobre a boate, aqui a autora nos apresenta as pessoas que protagonizarão essa tragédia, nos contando um pouco de suas vidas antes de mostrar onde estavam no momento do rompimento da barragem.
  A descrição do acidente acontece da mesma forma que o próprio acidente aconteceu, de forma rápida e de pouca duração mas de grande proporção. Na introdução nos é falado que a autora consegue fazer com que o leitor se sinta no meio do caos, que sinta o gosto da terra, e é exatamente como me senti. A habilidade que a autora demonstrou enquanto deixava o leitor sufocando nadescrição da fumaça do outro livro aqui parece até mais forte, com uma capacidade de ilustração invejável a muito romancista consagrado Daniela nos faz ver a lama, os corpos despedaçados e esfolados até perderem toda a pele.
  Grande parte do livro é dedicado aos esforços de resgate, combinados com o desespero dos familiares e relatos da devastação.
  A denuncia que a autora faz à empresa responsável e a incompetência daqueles que deviam punir estes é revoltante e vemos que não importa quantas vidas humanas sejam perdidas, algumas pessoas ainda vão achar que o dinheiro vale mais, como diz no trecho que destaquei.
  Infelizmente o livro é manchado por algumas questões ideológicas, não o desqualificam, longe disso, mas seria irresponsabilidade minha não falar sobre. A autora, em vários momentos, coloca situações de forma a dizer que o país é demasiadamente machista ou racista, em algumas passagens falando exatamente isso. É não que estes problemas não existam, mas colocar isso como regra, como se o normal e decente fossem exceção, é bastante partidário. Em vários momentos ela fala sobre as profissionais mulheres que trabalharam no salvamento, dando ênfase justamente no fato de serem mulheres, deixando meio que subentendido que elas desafiaram todo um sistema (imaginário) para poderem estar no corpo de bombeiros e afins... É fato conhecido que a carreira militar é livre para quem quiser ingressar e não é algo fácil pra ninguém, seja homem ou mulher, quando a autora insiste em colocar esses questionamentos sobre papel de gênero ela mais confirma a regra, fazendo esses casos parecerem exceção, do que o que ela está querendo dizer, com esse papo de falso empoderamento, já que sempre houve mulheres na carreira militar e trabalhando em salvamentos sempre que quiseram.
  Como disse, essa politicagem identitarista não desqualifica o livro, mas é frequente o suficiente pra quebrar um pouco toda a emoção dos relatos realmente importantes que o livro trás, e por isso ele perde uma estrela. 




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