quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

[Opinião] Um Artista do Mundo Flutuante - Kazuo Ishiguro #393

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Editora: Companhia das Letras

N° de Páginas: 225

Quote:
"Uma noite, não faz muito tempo, eu estava parado nessa pequena ponte de madeira e vi à distância duas colunas de fumaça que subiam das ruínas. Talvez fossem operários do governo dando continuidade a algum lento programa interminável; ou talvez crianças envolvidas em alguma brincadeira delinquente. Mas a visão dessas colunas contra o céu me pôs num clima melancólico. Elas eram como piras de algum funeral abandonado."

Opinião:
  Kazuo Ishiguro era um autor que me chamava muita a atenção, primeiramente por ser japonês, apesar de naturalizado inglês, e seus livros serem considerados também literatura inglesa, já que ele saiu do Japão aos 5 anos de idade... tipo Clarice Lispector, que não era brasileira, mas era... outra coisa que me despertava o interesse no autor era o fato de ele ter recebido, em 2017, o Prêmio Nobel de Literatura, meu primeiro contato com sua obra foi há alguns anos com o livro O Gigante Enterrado, sobre o qual já falei aqui no blog, foi uma experiência de leitura maravilhosa e decidi que leria tudo que pudesse desse autor, mas sem pressa, pra não esgotar a obra hehe.
  Como meu segundo livro dele resolvi pegar o segundo livro que ele publicou, aqui conhecemos Masuji Ono (ますじおの provavelmente escrito com ideogramas, mas como não é falado no livro vamos deixar em hiragana mesmo), Ono é um pintor aposentado, é a ele que o título se refere, o tal mundo flutuante diz respeito à vida noturna do Japão da geração passada, as festas elegantes, a vida boêmia...
  É um livro que vai nos apresentar um conflito de gerações, localizado cronologicamente no pós-guerra, depois de todo o desastre das bombas nucleares e da ocupação americana na terra do sol nascente. Ono é aquele narrador do qual você não gosta, não que você vá morrer de amores por qualquer personagem aqui, mas Ono é quem nos conta a história, ele é um homem arrependido e amargurado.
  Depois de perder seu filho para a guerra e ter um relacionamento complicado, para dizer o mínimo, com suas filhas, Ono reflete sobre seu papel, enquanto artista, em propagandear a guerra, se culpa pelas obras panfletárias que criou e que, indiretamente, levou tantos jovens japoneses, assim como seu filho, que foi convencido mais diretamente, a ingressarem e morrerem em uma guerra na qual o Japão não precisava, realmente, ter se envolvido.
  Ao mesmo tempo que questiona a prostituição da arte para propaganda bélica, Ono tambem sofre com pensamentos de que a arte não tem toda essa influência e que todo o seu trabalho pode não ter significado nada nem influenciado ninguém... E ele não sabe qual dos temores é o pior.
  Esse narrador levemente rabugento, antipático e frio com a própria família nos conduz pela história se contradizendo em meio a paranóias melancólicas e mostrando o conflito de ideias entre ele e suas filhas,  questionando suas convicções interiormente enquanto questiona a dos demais de forma aberta e em voz alta. É o tipo de narrador que amamos odiar, pois no final da história, não sabemos exatamente quanto do que ele nos contou sobre si e sobre os outros podemos tomar como verdade absoluta, já que o decorrer dos fatos já nos mostra que o mundo não é  exatamente como ele pintou para o leitor.
  Sobre a edição do livro eu tenho que parabenizar a editora, adoro quando dão um padrão para um autor, e aqui vemos esse livro de cor vibrante,  com o corte do miolo da mesma cor, com esse hot stamp na ilustração de capa que conversa com o título e harmoniza muito bem como um todo.
  É um livro bem diferente do outro que li do autor, ainda acho que gostei mais daquele, mas sem dúvida é uma leitura envolvente e reflexiva, lenta, mas que vale a pena.



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