terça-feira, 2 de setembro de 2025

[Opinião] Nosso Homem em Havana - Graham Greene #553

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"A infância era o germe de toda desconfiança. É-se cruelmente zombado e depois cruelmente se zomba. Perde-se a memória da dor ao infligi-la. Mas, de alguma forma, ainda que não mediante virtude própria, ele nunca tomara esse trajeto. Faltava-lhe, talvez, caráter. Dizia-se que as escolas formavam o caráter desbastando as arestas. Suas arestas haviam sido desbastadas, mas o resultado não fora, pensou ele, um caráter - apenas uma deformidade, tal como uma obra exposta no Museu de Arte Moderna."
  Graham Greene é um daqueles autores dos quais tenho interesse em ler toda a obra, mas não tenho muita pressa e tenho lido um livro dele por ano. Este é o sexto livro dele que leio, e o primeiro que tem uma veia cômica tão evidente.
  Aqui conhecemos Jim Wormold, que como todo bom inglês será chamado apenas pelo sobrenome por quase todo o livro. Wormold é, como já disse, um inglês que vive em Havana, capital de Cuba, antes da revolução que destruiu o país. Lá ele tem uma loja de aspiradores de pó... bem específico, né? Também achei... Mas ele vive ali, com seu funcionário, os negócios não andam muito bem, Wormold tem gastos desnecessários para atender as vontades peculiares da filha Milly(que é a melhor personagem do livro), tipo: pagar estábulo para um cavalo que ganha de um capitão do exército que é seu amigo (embora suas intenções sejam, claramente, ser mais do que isso).
  Em um dia como qualquer outro um homem inglês visita a loja de Wormold, tem uma breve conversa estranha e vai embora... Quando Wormold o reencontra ficamos sabendo que este homem é parte do serviço de inteligência inglês, e recruta o protagonista como espião (assim do nada mesmo, Wormold também fica sem entender) e a partir de então ele ganha uma confiança da qual não é digno, uma responsabilidade que não tem noção do tamanho e um salário melhor do que o esperado.
  O livro tem momentos hilários, de humor inglês, então talvez não funcione com todo mundo, comigo funcionou. Passamos a acompanhar um homem um tanto sem noção fazendo coisas para justificar o salário que recebe, criando uma rede de espionagem com vários membros (que não sabem que são membros) e muitos relatórios (totalmente inventados), porque se é para revelar segredos que só ele tem conhecimento, quem é que vai confirmar ou negar tais segredos, certo?
  Graham Greene não é o autor mais fluido da face da Terra, costumo levar mais tempo para ler os livros dele do que de muita gente por aí... Mas este livro é diferente, a narrativa descontraída, com problemas grandes, mas explorados de forma engraçada e beirando o absurdo faz a leitura andar que é uma beleza.
  Mesmo sendo uma comédia, o livro ainda trás temas que nos fazem refletir, como sinceridade, caráter e dever, não só dever cívico, mas também seu dever moral, de defender os seus. Milly é uma jovem adorável, mesmo com seus gostos caros. Ela tem momentos divertidíssimos, resistindo às investidas do capitão Segura, seus momentos no convento e sendo o ponto religioso que está presente em boa parte dos livros do autor.
  Pode não ter se tornado minha obra favorita de Graham Greene, mas sem dúvida nenhuma é a mais divertida que li dele. Tem um filme baseado nesse livro, está disponível legendado no YouTube gratuitamente, comecei a ver, mas como sou uma negação para filmes, ainda não terminei.


Henry Graham Greene nasceu na Inglaterra, em 1904. Aos 13 anos, vai para um colégio interno; solitário e humilhado pelos colegas, tenta o suicídio várias vezes. É então mandado para Londres, onde faz tratamento psiquiátrico por seis meses. Seu analista o encoraja a escrever e o introduz no seu círculo literário.
Em 1925, publica seu primeiro livro, de poesia. Estuda em Oxford e, em 1926, converte-se ao catolicismo por influência de sua namorada, Vivien, com quem se casaria no ano seguinte. Entre 1926 e 1930, trabalha como editor no jornal The Times, de Londres.
Seu primeiro romance, O Homem Interior, é de 1929. No mesmo ano, deixa o The Times e passa a atuar como crítico literário e de cinema no Espectator, onde fica até 1940. Durante a Segunda Guerra Mundial, trabalha para o governo inglês nos ministérios da Informação e do Exterior -e também como agente secreto. Nas décadas seguintes, continuaria a escrever ficção e exercer o jornalismo. Morre em Vevey, na Suíça, em 1991.
Greene é um dos escritores ingleses mais lidos do século 20. Publicou mais de 60 livros, entre romances, contos, peças de teatro, relatos de viagem, ensaios, roteiros de cinema e biografias.

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