"Tarwater cerrou os punhos. Estava parado como alguém condenado, esperando no lugar da execução. Então veio a revelação, silenciosa, implacável, direta como a bala de uma arma. Ele não olhou nos olhos de nenhuma fera flamejante, tampouco viu uma sarça ardente. Ele apenas soube, com uma certeza fincada no desespero, que era esperado que ele batizasse aquela criança e que deveria dar início à vida para a qual seu tio-avô o preparara."
Flannery O'Connor é uma autora que muito me chama a atenção há anos já... li seu nome em algum outro livro, que não vou me lembrar agora, mas que se fosse para chutar diria que foi em algum do C. S. Lewis... E eu jurava que ela só havia escrito contos, já até li alguns poucos... Soube que ela havia publicado romances (dois, pra ser exato) pouco antes de ganhar este livro.
Este é um livro sobre o qual é meio difícil falar, não por que a história seja confusa ou algo do tipo... é história é simples, a escrita da autora é clara... mas a atmosfera que ela cria aqui é sufocante...
Nosso protagonista é Tarwater, que na verdade é seu sobrenome, seu nome é Francis, mas é como ele prefere ser chamado... ele é criado desde bebê por um tio-avô que é praticamente a versão masculina de Margarete White, a mãe da Carrie, a estranha...
O tio-avô de Tarwater é uma personagem detestável, um fanático religioso que dificilmente poderia estar mais longe de um verdadeiro relacionamento com Deus. Ele cria o sobrinho neto, que nasceu durante um acidente de carro que tirou a vida de sua mãe, para ser uma espécie de profeta do que, na cabeça bitolada dele, é o cristianismo... Tanto que uma das missões que ele tem, mas que deixa claro que será responsabilidade do garoto, caso ele morra sem cumprir, é o batismo de um outro sobrinho-neto dele, Bishop, filho do irmão da mãe do protagonista, que será conhecido aqui como O Professor... ele tem nome também, Rayber, mas será mais referido dessa forma.
O Professor foi a primeira tentativa de... seja lá no que o Mason (o tio-avô) quer transformar Francis. Mas o garoto conseguiu sair de debaixo da maluquice do tio, inclusive é ele que resgata Francis a princípio, mas Mason o rouba, e quando Rayber vai até sua casa, junto com uma assistente social, para reaver o garoto, o tio o recebe a tiros de espingarda, e Rayber nunca mais volta.
Como eu disse, é uma história sufocante! Onde o único personagem que se salva é alguém que não só não nos dá raiva por ser, literalmente, incapaz. Tarwater tem 14 anos no presente da história e é assustador como alguém com tão pouca idade consegue ser uma pessoa tão desagradável e amarga.
É um livro que vai fingir tratar sobre fé, mas vai falar sobre fanatismo, sobre loucura mesmo... em diversos momentos aparece uma personagem do nada para conversar com o protagonista, e assim como todos os personagens aqui, ele representa algo... A própria autora já explicou o que ele representa, mas vou deixar que leiam para que possam ver... ele aparece, pela primeira vez, enquanto o protagonista está cavando uma cova, e ali é chamado de O Estranho (ou talvez O Desconhecido, não tenho certeza agora), mas quando ele reaparece, mais adiante na narrativa, ele é tratado apenas como O Amigo.
O título do livro é extraído do versículo de Mateus 11;12 "Desde os dias de João Batista até hoje, o Reino dos Céus sofre violência, e os violentos o arrebatam." Este é um versículo estranho, enigmático... muito já pensei sobre ele, muito já pesquisei também e há diferentes "explicações", eu já o coloco na leva das coisas de Deus que não nos compete saber...
Um livro desagradável, genial, incomodativo, que, assim como o versículo de onde o título é tirado, nos provoca a pensar. Acho que vale, e muito a leitura, mas não posso dizer que é uma experiência prazerosa.
O'Connor estava familiarizada com algumas das questões mais sensíveis contemporânea que seus personagens liberal e fundamentalista pode encontrar. O'Connor completou mais de duas dezenas de contos e dois romances, enquanto lutava contra o lúpus. Ela faleceu em 03 de agosto de 1964, com a idade de 39 anos, de complicações do lúpus, em Baldwin County Hospital e foi sepultado em Milledgeville, Georgia, em memória Hill Cemetery.




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