quarta-feira, 22 de outubro de 2025

[Opinião] A Casa Verde - Mario Vargas Llosa #561

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"Foi assim que a Casa Verde nasceu. A construção levou muitas semanas; as tábuas, as vigas e os tijolos precisavam ser arrastados de outra ponta da cidade, e as mulas alugadas por don Anselmo avançavam com dificuldade pelo areal. O trabalho começava de manhã, quando a chuva seca parava, e terminava quando o vento aumentava. De tarde, à noite, o deserto engolia os alicerces e enterrava as paredes, as iguanas roíam as madeiras, os abutres faziam seus ninhos na insipiente construção, e toda manhã era preciso refazer o que tinha sido começado, corrigir os planos, repor os materiais, num combate surdo que foi galvanizando a cidade. 'Quando o forasteiro vai se dar por vencido?'perguntavam-se os vizinhos."

  Começar avisando que esta postagem está saindo no dia do meu aniversário, e que o link pra minha lista de desejos é este aqui, não que eu esteja insinuando alguma coisa, imagina.

  Então, aqui temos mais um dos livros de estrutura maluca do Llosa, aquela bagunça de narrador, cenário e tempo que a gente adora, mas confesso que aqui eu me perdi com força... acho que é o livro mais confuso do autor... ou eu que não prestei a atenção devida... mas já digo que é um caminho melhor ir pra Cidade e os Cachorros e Conversa no Catedral antes de encarar isso aqui.
  Temos diversos protagonistas aqui... incluindo um sargento (é sargento? talvez general... mas acho que não é apenas cabo, já não tenho certeza) chamado Lituma... é o mesmo Lituma do livro Lituma nos Andes? Não sei... É o mesmo Lituma que era cabo nas histórias de Pedro Camacho em Tia Júlia e o Escrivinhador? Nem ideia... mas é aqui que este nome aparece pela primeira vez (que eu me lembre) uma vez que este é o segundo romance publicado pelo autor. Ele estava de serviço no meio da selva amazônica, entre os companheiros do exército e os indígenas que habitavam a região... até voltar para Piura, uma cidade isolada no deserto peruano, onde um forasteiro chamado Don Anselmo construiu uma misteriosa (pelo menos, num primeiro momento misteriosa) casa verde, que logo se revela um prostíbulo e que, além de dar nome ao livro, é uma construção quase personagem, pois tudo vai orbitar a dita casa.
  Além de Lituma e Don Anselmo, acredito ser seguro dizer que Bonifácia também faz as vezes de protagonista... Bonifácia é uma índia que é tirada da aldeia e colocada num convento (que também é um dos principais cenários do livro... porque tem tudo a ver com a selva e com o prostíbulo...), no convento ela é chamada de Selvática... e como ela foi pra lá contra a vontade, não é muito feliz que a encontramos...
  Como eu disse, é um livro complicado de se acompanhar, quando os personagens de diferentes cenários começam a se encontrar então, aí é só queimando muito neurônio pra entender quem, de onde e quando está falando... já que o tempo aqui é como um espelho quebrado em pedaços bem pequenos, o leitor que vai ter que organizar, dentro da própria cabeça (ou num caderninho a parte) a história em ordem cronológica.
  A Casa Verde muda a vida de todo mundo, desperta interesse em alguns, repulsa em outros e até ambos em uma maioria. É um livro que vai criticar tudo e todos, não vai poupar ninguém, você sai dele sem fé nenhuma na humanidade e achando que ninguém no mundo presta... ou talvez eu não tenha entendido direito o livro... o que é uma grande possibilidade... 
  É difícil definir o que pode ser considerado spoiler nesse livro, porque elementos do final são falados desde o início, tem uma relação... romântica... vamos chamar assim, que é uma das poucas coisas que segue uma ordem quase coerente, mas se falar das personagens nesse, er... relacionamento, pode estragar a experiência de alguém... pelo menos neste aspecto, tem muita coisa pra chamar de experiência nessa leitura.
  É um livro sobre a podridão humana... mas também sobre a humanidade no meio da podridão... ninguém é perfeito, mas sempre tem algo que dá pra salvar em cada um... a esmagadora maioria das pessoas é hipócrita, e poucas pessoas vão assumir isso. É um livro que vai direto para a pilha de releitura, quem sabe numa segunda tentativa eu consiga extrair mais do que ele tem a oferecer.

Jornalista, dramaturgo, ensaísta e crítico literário, Mario Vargas Llosa é um dos mais conhecidos e prestigiados escritores da atualidade. Nascido no Peru, em 1936, passou a primeira infância na Bolívia. Viveu em Paris e lecionou em diversas universidades norte-americanas e europeias.
Foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura em 2010 "por sua cartografia de estruturas de poder e suas imagens vigorosas sobre a resistência, revolta e derrota individual"
Faleceu, de causas naturais, em 13 de abril de 2025, em sua casa na cidade de Lima, no Peru.

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