terça-feira, 14 de abril de 2020

[Opinião] Matéria de Memória - Carlos Heitor Cony #267

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Editora: Alfaguara

N° de Páginas: 200

Quote:
"Estou só. Preso e só. Selma pode chegar, o avião pode explodir ao descer, ela pode explodir ou querer vir esta noite aqui e ser minha. Nada disso importa. Estou só, preso e livre, estranhamente livre, imensamente livre e onipotente em minha prisioneira liberdade."

Sinopse:
 Tino, Selma e João dão seus depoimentos sobre suas vidas amorosas. Cada personagem narra os mesmos episódios sob seu ponto de vista, deixando para o leitor a tarefa de montar o quebra-cabeça deste surpreendente romance sobre os desencontros do amor. Lançado originalmente em 1962, Matéria de memória é um romance em que se cruzam várias histórias de amor. Vividas como se a vida estivesse por um fio, são protagonizadas por personagens comuns, pelo tanto que estão sujeitos ao medo, à culpa e à dor. Mas são também personagens incomuns, pelo poder que têm de dar ao sofrimento a forma de uma segunda pele, de guardá-lo como se corpo e memória fossem uma única e mesma coisa. Do coração assustado de um menino que conhece o sexo no internato ao coração experiente de uma mulher madura que não conheceu o amor, tudo é concreto neste romance de Carlos Heitor Cony. Seus personagens, pura matéria, parecem ter sido feitos para durar em nossa memória.

Opinião:
  Para consolidar a minha fascinação por este autor temos este livro, que eu colocaria em terceiro na minha lista de favoritos dele. É um livro onde absolutamente todos os personagens são detestáveis. O autor divide a narração em três protagonistas: Tino, um pintor de relativo sucesso, viúvo e secretamente apaixonado pela mãe de sua falecida esposa, que é também a segunda narradora do livro, também secretamente apaixonada pelo marido da falecida filha, e João, filho de Selma e cunhado de Tino, o único, além da irmã, que percebeu o amor secreto entre Tino e Selma, coisa que nem os próprios apaixonados perceberam, mas é o único mérito que João tem no quesito inteligência, ele é o perfeito esteriótipo de babaca lesado, é odiado por absolutamente todo mundo, e apesar de dizer isso com um pouco de pena, ele bem que merece.
  Começamos o livro com Tino contando sua história, falando do quanto ele ama a mãe da falecida esposa desde a primeira vez que a viu mas ao mesmo tempo ele sente um ódio desmedido por ela, na verdade ele não ama coisa nenhuma, ele tem um atração sexual bem selvagem por ela, isso sim. Tino recebe um telegrama de Selma no qual ela avisa que está retornando ao Brasil e informa o horário previsto para o pouso de seu avião, e ele começa uma briga interna para decidir se irá ou não esperá-la no aeroporto, nessa briga acompanhamos a vida dele, a tentativa de suicídio durante o velório da mãe e a forma como abuso infantil era considerado uma brincadeira, praticamente, entre o bando de doentes mentais que compunham o seu circulo social quando criança.
  Selma, apesar de não ser mais tão jovem tem toda a beleza de uma estrela de cinema e chama atenção de todos a sua volta, é então abordada no avião por um homem, com o mesmo nome de seu falecido marido, que a pede em casamento, a situação é tão bizarra que se torna cômica, enquanto Selma voa em direção ao Brasil sua mente voa para o passado e vemos a sua versão da história do casamento de Tino e Julinha, além do que transcorreu na sua vida nesse tempo.
  João começa como narrador quando já está no aeroporto esperando a sua mão, que ele despreza quase tanto quanto ela a ele, tudo parece certo, até que uma aeromoça se aproxima. A parte narrada por João consegue ser a mais engraçada das três, mesmo que a vontade de espancar ele apareça a cada página.
  É um livro extremamente envolvente, que mostra diferentes naturezas do ser humano, ao mesmo tempo que trata sobre sentimentos, arrependimento e traumas, onde cada personagem tem apenas uma parte das respostas e que se agarram ao sofrimento imposto pela ignorância do panorama total. Com certeza é um livro que merece ser lido, onde o autor transmite toda a habilidade dele, com personagens complexados e imprevisíveis, onde ficamos imaginando o que eles realmente sentem, e mesmo que acompanhemos os pensamentos de cada um dos três protagonistas não conseguimos parar de imaginar e tentar descobrir o que se passa na cabeça deles.


2 comentários:

  1. Legal Rudi, fiquei feliz de ver esse blog atualizado hoje... hiatos hahaha

    Como te falei já estou com um ebook do autor no meu kindle, é só questão de tempo para eu ler.

    Pelo quote, acho que vou gostar da escrita...

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    Respostas
    1. Hahaha, deixei algumas postagens programadas, então ele vai dar uma respirada antes de mergulhar novamente :p
      Que livro você tem no kindle mesmo??
      Não concordo com muita coisa que ele põe nos livros, mas sempre gosto das histórias dele, estou com um livro de crônicas dele para ler, mas como não o considero a pessoa mais legal do mundo talvez me irrite um pouco com os textos mais opinativos...

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