"O que os surpreendeu é que nada daquilo parecia importar. Ninguém se recusou a falar com eles; ninguém lançou olhares feios; o mundo que temiam não os fizera sofrer. Começaram a acreditar que poderiam viver no lugar que pensaram ser inimigo ao seu amor, e viver ali com alguma dignidade e tranquilidade."
Este é um livro que me chama a atenção há muitos anos... para os xóvens no mundo literário na internet, ou mesmo no mundo real... houve uma editora chamada Rádio Londres que, até onde sei, foi a primeira a trazer este livro, além de outros do autor, para o Brasil. Como eu adoro uma capa padronizada (Obrigada Penguin e Tusquets... Alfaguara já não merece agradecimentos por isso) eu sempre namorei os livros dessa editora, dos quais, me parece que Stoner era o maior hit.
Acabou que a editora fechou, os livros sumiram e nunca mais foram vistos os livros deles... Até que a editora Arte e Letra, que eu confesso que não conhecia, relança, enfim, Stoner no Brasil... O livro então voltou para o meu radar, mas sempre para o futuro... Acabei ganhando ele de aniversário no ano passado (Obrigado Claudinha :3) e enfim já podia lê-lo... o que não aconteceu de imediato... até que chegou a hora, com uma leitura coletiva encabeçada de Mirian.
Até então o que eu sabia sobre o livro: era sobre um professor que morria... O que não foge da realidade, afinal todo mundo morre em algum momento...
Acho que podemos chamar este livro de um romance de formação, pois acompanhamos nosso protagonista, William Stoner, desde sua infância ajudando os pais na fazenda deles... Seu pai, buscando oportunidades melhores para o filho do que as que ele mesmo teve, o manda para a faculdade com a intenção de estudar agronomia e ajudar a elevar o nível das coisas lá na fazenda... Mas na faculdade Stoner acaba se apaixonando pela literatura e pela língua inglesa, o que o faz se tornar professor... inclusive professor na própria universidade que estudou.
A partir daí acompanhamos a vida de Stoner, uma vida simples, bastante previsível, inclusive... mas o que torna esse livro tão bom é justamente mostrar que uma vida simples, não exatamente pacata, com problemas que podem durar por toda ela, uma vida que é a descrição do trivial e medíocre... mesmo uma vida assim, tem valor, pode ser bela e tem momentos que fazem tudo valer a pena.
Claro que perfeição é algo muito difícil de ser alcançado, então aqui temos alguns problemas para apontar... o principal deles é: Stoner é um professor de língua inglesa e literatura, um amante dessa área... e em momento nenhum vemos ele falar de um único livrinho que seja, exceto, obviamente, durante as aulas. Ele frequenta bibliotecas e tal, mas as únicas leituras mencionadas são as leituras dos trabalhos dos alunos... Se tem tanto amor pela literatura, como isso não transparece de alguma forma?
Stoner é um cara muito banana... vários dos seus problemas poderiam ter se resolvido com uma simples tomada de decisão e o mínimo pulso firme, o que não acontece... ele só passa a ter um nível saudável de testosterona na velhice, quando ele decide parar de se dobrar pra tudo (incrível como a coluna dele ainda sabia ficar ereta).
Outro episódio que pode ser interessante mencionar é um atrito entre Stoner e o professor Lomax, um atrito que dura a vida toda, na verdade... Mas parece muito mais uma armadilha de Lomax para Stoner, que cai direitinho... Mas é também uma situação onde vemos pessoas que abusam da boa vontade e se apoiam em um discurso de discriminação, que às vezes, como no episódio mostrado no livro, nem faz sentido, mas o barulho em cima disso já é o suficiente.
Um livro extremamente interessante, agradável de ser lido, bem conduzido e, mesmo que previsível e com todos os clichês possíveis, sabe amarrar tudo muito bem numa narrativa que não se torna piegas e não cai na mesmice. Personagens muito bem construídos e bastante humanos, daqueles que nos espelhamos e esse espelhamento não é totalmente agradável.
John Edward Williams foi um escritor norte-americano, nascido em Clarksville no Texas, em 1922. Serviu a aeronáutica de seu país durante a Segunda Guerra Mundial, sendo enviado a países distantes como Índia e Myanmar. Ao retornar da Guerra, foi beneficiado com a G.I. Bill (lei que compensava veteranos da guerra) que permitiu seu ingresso na faculdade em Denver e na Universidade do Missouri. Leccionou na Universidade de Denver por vários anos, publicou romances e escreveu poesia. Suas obras mais conhecidas são Stoner (1965) e Augustus (1973), seus terceiro e quarto romances respectivamente. Conseguiu grande reconhecimento em 1973, ao vencer o prestigiado National Book Award.
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