N° de Páginas: 317
Citação:
Você aprende uma coisa depois de ter vivido tanto quanto eu vivi: as pessoas não são completamente boas nem completamente ruins. A gente passa a vida toda entrando e saindo das sombras e da luz. Neste momento eu estou feliz por estar na luz."
Sinopse:
A segunda Guerra Civil, também conhecida com "Guerra de Heartland", foi um conflito longo e sangrento motivado por uma única questão.
Para acabar com a guerra, uma série de emendas constitucionais conhecida como "A Lei da Vida" foi criada.
Ela satisfez tanto o exército Pró-Vida como o Pró-Escolha.
A Lei da Vida declara que a vida humana não pode ser tocada desde o momento da concepção até que a criança chegue a idade de 13 anos.
No entanto, entre os 13 e os 18 anos, a mãe ou o pai pode escolher "abortar" retroativamente uma criança...
... com a condição de que a vida da criança não tenha, "tecnicamente", um fim.
O processo pelo qual uma criança é ao mesmo tempo eliminada e mantida viva é chamado de "fragmentação".
Agora, a fragmentação é uma prática comum e aceita pela sociedade.
Opinião:
Realmente não tenho ideia do que falar sobre esse livro.
Vamos por partes, pra que eu consiga me situar e tentar passar pra vocês o que esse livro é. Antes de mais nada vamos deixar uma coisa clara: Ele é desconcertante!
Esse livro narra a história de três personagens: Connor, Risa e Levi. Todos os três foram "condenados" à fragmentação, que é um processo aceito pela sociedade onde jovens indesejados são submetidos a cirurgias que os desmancha para que suas partes (órgãos, pele... tudo) possa ser transplantado em pessoas que precisam de alguma dessas partes.
A história, apesar de bem construída dá alguns escorregões, fazendo algumas coisas acontecerem meio rápido demais, mas tirando isso não tenho do que reclamar.
É um livro desconcertante porque mostra o quanto o ser humano é insensível e gosta de se enganar, a fragmentação é aceita porque as pessoas gostam de acreditar que mesmo que transformem seus filhos a um monte de partes eles continuarão vivos de alguma forma, não é um conceito totalmente furado, mas também não é a mesma coisa, quando você é doador de órgãos morre, seus órgão serão reaproveitados e ajudarão a salvar vidas, isso é fato, aquela parte sua continuará viva através de outra pessoa, que talvez só tenha continuado viva graças àquela parte sua...
Mas acreditar que você pegar uma pessoa viva e saudável e desmontá-la para reaproveitar 100% de suas partes (salvará muitas vidas, claro) é algo doentio, e no fundo, todos os personagens sabem disso.
Uma coisa amplamente discutida no livro é sobre quando começa a consciência de uma pessoa, a partir de que momento ela se torna ela mesma, e quando ela deixa de ser. Isso é muito difícil de decidir (não que alguém tenha capacidade ou direito de decidir tal coisa). Não acredito muito que a memória muscular se mantenha depois que o braço seja transplantado em outra pessoa.
Outra coisa que achei genial da parte do autor foi o fato dos protagonistas que receberam parte do cérebro de outra pessoa manterem parte da sua memória, e em alguns momentos essa outra pessoa "volta" e assume o controle do corpo ao qual foi transplantado, e o que garante que não seria exatamente assim? O cérebro humano é imensamente complexo, como se pode saber se a parte responsável pelas memórias ou personalidade não continuará exatamente igual depois de transplantada em outra pessoa?
O livro é desconcertante de diversas formas, vemos o quanto os mal-entendidos podem causar estragos, o ponto ao qual o egoísmo humano pode chegar, a morte lenta e praticamente inevitável da compaixão aos semelhantes, além da alienação coletiva e fanatismo criado por religiões torpes, que manipulam palavras para voltar os ensinamentos ancestrais para satisfazerem suas próprias vontades.
Se você gosta de livros tensos, misteriosos, angustiantes e altamente reflexivos esse é ideal, com cenas chocantes e personagens convincentes e altamente bem construídos.
Não encontrei erros, ou se encontrei foram bem irrelevantes, já que não me recordo de nenhum, e quem me conhece sabe o quanto eu sou chato com isso (a propósito: esqueci de falar mas o livro do Jurassic Park tinha alguns escorregões na revisão), mas pela história incrível bem que o livro merecia uma capinha melhor... eu dificilmente teria comprado ele se chegasse a uma livraria e visse essa capa (sim, eu compro livros pela capa, me julguem) apesar de ela fazer sentido na história e não ser das piores, consigo imaginar outras terríveis.
PS: Li em algum lugar que o autor tem outros livro ambientados no mesmo universo, não sei se é verdade, ou se aguento outro livro tão forte, mas uma parte de mim (e é tão estranho falar isso considerando a história em questão) espera que isso seja verdade.
PS²: Esse livro cumpre o desafio "Livro com capa azul" da maratona, e sim, não é inteiro azul mas é azul sim u.u