N° de Páginas: 315
Quote:
"Primeiro nossa maravilhosa mãe se foi, depois nosso pai. Nós percebemos, sentimos na hora que éramos as últimas. Naquela linha... naquele limite... Somos as últimas testemunhas. Nosso tempo está acabando. Devemos falar... Nossas palavras serão as últimas..."
Sinopse:
"Não só os orfanatos passavam fome, as pessoas ao nosso redor também, porque entregavam tudo para o front. De crianças pequenas éramos umas quarenta, nos instalaram separadamente. À noite - berros. Chamávamos por mamãe e papai.
Os educadores e professores tentavam não dizer a palavra 'mãe' na nossa frente. Eles nos contavam histórias e escolhiam os livrinhos que não tinham essa palavra. Se de repente alguém falava 'mãe', na hora começava um chororô. Um choro inconsolável."
O trecho acima é o testemunho de Zika Kossiak, que tinha oito anos quando a Segunda Guerra Mundial assolou a antiga União Soviética, e foi uma das muitas pessoas esntrevistadas pela jornalista bielorussa Svetlana Aleksiévitch, vencedora do prêmio Nobel de literatura de 2015. Ela conversou com vários sobreviventes que eram crianças durante a guerra e presenciaram horrores que nenhum ser humano jamais deveria experimentar. Os relatos francos desses indivíduos, adultos à época das entrevistas, mas nunca antes ouvidos, são a matéria dolorosa e potente deste livro colossal.
Opinião:
Só de pensar em falar desse livro já me dói o peito.
Esse livro completa a trinca de livros que destroem nossa fé na humanidade, trinca essa composta por Enterrem meu Coração na Curva do Rio, do Dee Brown e Todo Dia a Mesma Noite, da Daniela Arbex, além deste, é claro.
O livro é um conjunto de depoimentos de pessoas que eram crianças na época da Segunda Guerra, pessoas que hoje em dia são as últimas pessoas vivas que viveram aquela época, por isso o nome do livro, elas são pessoas que não tinham voz na época, e muitas perderam a coragem, vontade ou mesmo capacidade de falar sobre os horrores vividos em tão tenra idade.
A autora passou anos em busca dessas pessoas e recolhendo depoimentos para poder escrever esse livro, Pra quem não sabe, o que é difícil de acreditar, mas vamos lá... a autora ganhou o Nobel de Literatura em 2015 (se não me engano foi 2015) mas ela não se define como uma autora de livros, e sim como jornalista, que inclusive é sua profissão (Assim como Daniela Arbex, duas autoras incríveis e que passam os males de uma tragédia com tanta maestria que faz com que nos sintamos sentados na beira da rua vendo tudo acontecer sem poder fazer nada), e a única coisa que Svetlana faz, segundo ela mesma, é recolher os depoimentos e montar o livro.
Os depoimentos variam de pessoas que foram atingidas pela Guerra quando tinham três ou quatro anos até pré-adolescentes, de 12 ou 13. E claro que as lembranças de todos são doloridas, mas as daquelas que eram mais novas foram as que mais me pegaram. Como falei no vídeo, é difícil dizer que esse livro é bom, os relatos são contados em primeira pessoa por gente que teve a infância roubada, crianças com menos de cinco anos que sentiram na pele a maldade em seu estado mais forte, como o garotinho que, morrendo de fome, foi atraído pelo cheiro de sopa de ervilha e ganhou um banho de água fervente de um soldado alemão, uma menina que se surpreendeu ao encontrar o corpo de uma mulher, pois acreditava que na guerra só matavam os homens, crianças que eram usadas como banco de sangue para alemães feridos.
Existem uns poucos casos de final feliz, mas são poucos, porque essa é a realidade, dentre os cem relatos acho que não houveram três que reencontraram os pais quando a guerra acabou, crianças que ficaram órfãs e abandonadas a própria sorte, que cresceram sem saber o próprio nome e ao ver uma mãe com um filho no colo depois do fim da guerra fala, em sua inocência: "tia, me pega no colo".
Só de lembrar desses relatos as lágrimas voltam aos meus olhos, sei de gente que largou o livro antes da metade pois simplesmente não conseguiu ir até o fim, vi uma resenha onde a pessoa que resenhou chorou por dois dias e decidiu não concluir o livro, eu fui até o final, mas foi extremamente dolorido.
É sim um livro difícil e que causa sofrimento em que lê, mas se você acha que é um livro que não deveria existir está completamente enganado, é um livro que mostra erros do passado para que não voltemos a cometê-los, um livro que dá o direito de fala a quem tanto sofreu, um livro que vai te tornar mais empático, e chorar copiosamente pedindo perdão a Deus pela humanidade. É um livro extremamente necessário.
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