terça-feira, 30 de junho de 2020

[Opinião] Risíveis Amores - Milan Kundera #287

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https://www.skoob.com.br/risiveis-amores-2367ed3137.html
Editora: Nova Fronteira

Nº de Páginas: 236

Quote:
"Sim - disse Eduardo -, existe uma contradição entre o conhecimento e a fé. Reconheço que a fe em Deus conduz ao obscurantismo. Reconheço que seria melhor que Deus não existisse. Mas que posso fazer quando aqui, bem dentro de mim (dizendo isso, apontava o coração com o dedo), sinto que Ele existe? Por favor, camaradas, compreendam-me! Digo-lhes as coisas como são. É melhor que eu diga a verdade, não quero ser um hipócrita. Quero que vocês me conheçam tal como realmente sou."

Sinopse:
  Nos sete contos de risíveis amores, Milan Kundera retira do amor e do sexo a seriedade que normalmente costuma encobri-los. As situações se desenvolvem a partir de um mal-entendido, de um jogo com o outro. A mentira - ou a arte de iludir e ser iludido - está sempre em foco. Mas o engano, que se inicia como brincadeira, revela depois como o auto-engano governa todos os aspectos da vida. Assim, dois namorados fingem que não se conhecem e aos poucos percebem como são, de fato, dois estranhos. Em outro conto, um homem muito hábil mente e brinca com as pessoas, mas elas são tão crédulas que ele perde o controle da situação.
  Não são apenas histórias de amor que fazem rir. São, também, histórias sobre tentativas de repor alguma verdade na experiência amorosa.

Opinião:
  Já tinha algum tempo que eu pretendia ler alguma coisa do autor, minha primeira opção seria A Insustentável Leveza do Ser, porque é sua obra mais famosa e porque a contradição do título me fascina. Ou quem sabe A Festa da Insignificância, que comecei muitos anos atrás, mas não cheguei a concluir (na realidade acho que só li um ou dois capítulos). Mas para a minha surpresa minha primeira experiência foi com esse livro. Tenho um projeto (boa sorte para descobrir aonde) chamado Volta ao Mundo em 50 livros, e acabei escolhendo Republica Tcheca por acidente (ops!) e o livro selecionado para esse país era este.
  Aqui temos 7 contos (se não me engano e bem me lembro) todos com algum tipo doentio de relação que pode ser considerada amorosa por alguma mente perturbada, não apenas amor romântico, esse sentimento psicótico passeia também pela admiração, pelo apego ao trabalho e até para o amor próprio.
  Como toda a coletânea de contos nem tudo aqui é uma maravilha, falando brevemente de cada um:
  O Pomo de Ouro do Eterno Desejo mostra dois homens envolvidos no jogo da conquista, onde a arte de conquistar é mais satisfatória do que a conquista em si, nosso narrador começa a perceber o quão vazio é tudo isso e quer sair de fininho, mas o amigo, que inclusive é casado, arma uma armadilha para que ele vá arás de, pelo menos, mais uma conquista.
  Ninguém vai Rir é um dos meus favoritos, onde um homem passa a ser perseguido por algo que podemos chamar de fã, esse fã escreveu um artigo e quer que esse homem, um professor de certa importância, embora não muita, escreva um parecer sobre o tal artigo, abrindo assim as portas do mundo acadêmico para ele.
  O Jogo da Carona é uma história que parece ser bem banal no começo, um casal de amigos que está viajando junto pela primeira vez e resolvem brincar que são desconhecidos, o conto segue por um caminho angustiante que mostra que nem sempre conhecemos as pessoas, realmente.
  O Simpósio é o maior conto, e o pior, na minha opinião. Se passa em um hospital onde todos os médicos estão constantemente copulando ou pensando nisso.
  Que os Velhos Mortos Cedam Lugar aos Novos Mortos é, provavelmente, o mais sentimental de todos, e outro dos meus favoritos. Aqui uma mulher vai visitar o túmulo de seu marido e descobre que o monumento já não existe, foi demolido para dar lugar à um novo túmulo, já que ela não renovou uma licença cuja existência ela nem tinha conhecimento. Entre a indignação, a vergonha e sem saber como vai contar isso ao filho ela reencontra um antigo amigo que ainda vive na cidade e juntos vão reviver um pouco do passado.
  O Dr. Havel 10 anos depois foi uma grata surpresa, já que Dr. Havel é um dos personagens do conto O Simpósio, que já disse que detestei, mas aqui temos a decadência de um homem que sempre deu muito valor a sua virilidade, é um conto sobre a passagem do tempo e sobre o que ele leva enquanto passa, é muito bom.
  Eduardo e Deus fecha a coletânea de forma maravilhosa, Eduardo conhece uma garota e se encanta por ela, mas essa garota é cristã e ele começa a acompanhá-la até a igreja para que ela aceite namorar com ele, mas isso traz alguns problemas, já que estamos falando da época que o partido comunista comandava a República Tcheca, ou seja, ir na igreja não era exatamente proibido, mas não era muito bem visto também. Eduardo consegue engatar um relacionamento mas ele quer avançar para outro nível de intimidade e a garota deixa claro que permanecerá virgem até o casamento, Eduardo então resolve estudar a Bíblia para encontrar argumentos para refutar as negativas da garota, mas essa leitura vai levar Eduardo a compreender a vida de forma diferente da que estava acostumado.
  A escrita do autor é bastante diferente de tudo que já vi, ele tem uma habilidade incrível de colocar humor e melancolia nas suas palavras. Foi uma primeira experiência muito satisfatória e pretendo ler mais obras do autor.

Foto -Milan Kundera
  

2 comentários:

  1. Está aí um autor que nunca li, mas tenho vontade. Desconhecia que ele escrevia contos. Vou guardar essa indicação aqui para ler talvez em novembro, quando vou fazer um especial de contos (N-estorias) lá no blog.

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    1. Foi um primeiro contato bem mais positivo do que eu esperava. Que bom saber que o N-estorias vai é um "evento fixo", gostei bastante da iniciativa... talvez eu faça também

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