quarta-feira, 29 de outubro de 2025

[Opinião] O Aniversário de Juan Ángel - Mario Benedetti #563

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"em última instância haveria que se reconhecer que ninguém é má gente
todos cumprem com deus e com o estatuto
rezam quando há o que rezar
 perdoam quando há o que perdoar
falsificam quando há o que falsificar
alvissaram quando há o que alvissarar
escarmentam quando há o que escarmentar
sempre de acordo com deus e com o estatuto"


  Gente, que livro maluco!
  Gosto muito de Mario Benedetti, já li alguns livros dele e a cada um é uma experiência totalmente diferente do anterior... agora esse aqui foi uma experiência diferente de qualquer coisa que já li na vida... e eu já li muita coisa nessa vida.
   Primeiro que ele é escrito em versos, o que já dá uma cara de poema, o que já é um problema pra mim... não bastasse isso, é um livro sem capítulos, e se não bastasse isso, ele não tem pontuação nenhuma.
  Além do formato do texto, ainda temos a particularidade de que o livro se passa em um dia e em 27 anos ao mesmo tempo... Acompanhamos o dia de aniversário de Osvaldo Puente, e a cada hora do dia, ele tem uma idade diferente, então o autor separa os anos em horas de um mesmo dia... e nem sempre fica claro quando muda a hora/o ano, mas o autor dá dicas, mesmo quando não fala diretamente a idade ou o horário.
  Explicado, mal e mal e porcamente, a estrutura do livro, passemos para o enredo da história... Como já disse, vamos acompanhar o(s) aniversário(s) de Osvaldo Puente, começando quando ele está completando 8 anos, conhecemos sua forma peculiar de se referir à família. Como a mãe ser a flamingo, o pai o coruja... e outros membros sendo outros animais.
  Conforme o dia/anos vão passando, a forma de narração vai mudando sutilmente, os versos se tornam mais longos e mais elaborados, sem tantas repetições e, obviamente, os assuntos também se alteram... inclusive indo para um teor mais adulto, no sentido inapropriado para menores, mesmo. Além de começar a abordar questões políticas, que é, talvez, o principal tema do livro.
  Ao se envolver na militância política, Osvaldo Puente assume o nome de Juan Ángel (e então o título do livro faz sentido). Isso inspirado em Raúl Sendic, a quem, inclusive, Benedetti dedica o livro. 
  É um livro com tom de urgência, onde o autor mostra a ascensão de uma ditadura no Uruguai, coisa que realmente viria acontecer poucos anos depois. O autor foi um exilado político e opositor ao sistema ditatorial que se instalou no seu país por doze anos. Benedetti também usa esse tema, nesse caso depois da ditadura instalada, no livro Primavera em Um Espelho Partido, caso alguém se interesse.
  De forma geral, foi uma experiência de leitura muito interessante, mas muito mais pelo formato diferentão do que pela história em si, que pode ter sido prejudicada justamente pelo formato peculiar. Dentro do que propõe ele cumpre bem, mas não chega a se destacar entre outras obras do autor.


Mario Benedetti foi um poeta, escritor e ensaísta uruguaio. Integrante da Geração de 45, a qual pertencem também Idea Vilariño e Juan Carlos Onetti, entre outros. Considerado um dos principais autores uruguaios, ele iniciou a carreira literária em 1949 e ficou famoso em 1956, ao publicar "Poemas de Oficina", uma de suas obras mais conhecidas. Benedetti escreveu mais de 80 livros de poesia, romances, contos e ensaios, assim como roteiros para cinema. Dentre as diversas honrarias que recebeu destacam-se o Prêmio do Ministerio de Instrução Pública (1949), Esta Mañana; Prêmio Jristo Botev da Bulgaria (1986); o Prêmio Ibero-americano José Martí (2001); e o Prêmio Internacional Menéndez Pelayo (2005) que é dado em reconhecimento ao esforço de personalidades em âmbito artístico e científico em prol dos idiomas ibéricos.

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