"em última instância haveria que se reconhecer que ninguém é má gentetodos cumprem com deus e com o estatutorezam quando há o que rezarperdoam quando há o que perdoarfalsificam quando há o que falsificaralvissaram quando há o que alvissararescarmentam quando há o que escarmentarsempre de acordo com deus e com o estatuto"
Gente, que livro maluco!
Gosto muito de Mario Benedetti, já li alguns livros dele e a cada um é uma experiência totalmente diferente do anterior... agora esse aqui foi uma experiência diferente de qualquer coisa que já li na vida... e eu já li muita coisa nessa vida.
Primeiro que ele é escrito em versos, o que já dá uma cara de poema, o que já é um problema pra mim... não bastasse isso, é um livro sem capítulos, e se não bastasse isso, ele não tem pontuação nenhuma.
Além do formato do texto, ainda temos a particularidade de que o livro se passa em um dia e em 27 anos ao mesmo tempo... Acompanhamos o dia de aniversário de Osvaldo Puente, e a cada hora do dia, ele tem uma idade diferente, então o autor separa os anos em horas de um mesmo dia... e nem sempre fica claro quando muda a hora/o ano, mas o autor dá dicas, mesmo quando não fala diretamente a idade ou o horário.
Explicado, mal e mal e porcamente, a estrutura do livro, passemos para o enredo da história... Como já disse, vamos acompanhar o(s) aniversário(s) de Osvaldo Puente, começando quando ele está completando 8 anos, conhecemos sua forma peculiar de se referir à família. Como a mãe ser a flamingo, o pai o coruja... e outros membros sendo outros animais.
Conforme o dia/anos vão passando, a forma de narração vai mudando sutilmente, os versos se tornam mais longos e mais elaborados, sem tantas repetições e, obviamente, os assuntos também se alteram... inclusive indo para um teor mais adulto, no sentido inapropriado para menores, mesmo. Além de começar a abordar questões políticas, que é, talvez, o principal tema do livro.
Ao se envolver na militância política, Osvaldo Puente assume o nome de Juan Ángel (e então o título do livro faz sentido). Isso inspirado em Raúl Sendic, a quem, inclusive, Benedetti dedica o livro.
É um livro com tom de urgência, onde o autor mostra a ascensão de uma ditadura no Uruguai, coisa que realmente viria acontecer poucos anos depois. O autor foi um exilado político e opositor ao sistema ditatorial que se instalou no seu país por doze anos. Benedetti também usa esse tema, nesse caso depois da ditadura instalada, no livro Primavera em Um Espelho Partido, caso alguém se interesse.
De forma geral, foi uma experiência de leitura muito interessante, mas muito mais pelo formato diferentão do que pela história em si, que pode ter sido prejudicada justamente pelo formato peculiar. Dentro do que propõe ele cumpre bem, mas não chega a se destacar entre outras obras do autor.

.jpg)


Nenhum comentário:
Postar um comentário