Editora: Cia das Letras
N° de páginas: 152
Quote:
"O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço.”
Sinopse:
"Se meu livro As Cidades Invisíveis continua sendo para mim aquele em que penso haver dito mais coisas, será talvez porque tenha conseguido concentrar em um único símbolo todas as minhas reflexões, experiências e conjecturas." Assim se refere o próprio Italo Calvino - um dos escritores mais importantes e instigantes da segunda metade do século XX - a este livro surpreendente, em que a cidade deixa de ser um conceito geográfico para se tornar um símbolo complexo e inesgotável da existência humana.
Opinião:
Já faz algum tempo que ouço gente rasgando seda para esse autor, ano passado a Tatiana Feltrin - que se você não sabe quem é está demasiadamente por fora do mundo literário na internet - disse que esse foi um dos melhores livros que já leu, o que me deixou bastante curioso (tudo bem que ela adora Gabriel Garcia Marquez e eu não consigo gostar). Somando isso ao fato de Calvino ser um autor de grande renome, eu nunca ter lido um livro de origem italiana, e ter confundido Italo com João Calvino, resolvi ler esse livro.
E já vou começar dizendo que não me acho a pessoa mais indicada para falar da profundidade dessa obra.
Ela é um monólogo onde o grande explorador, Marco Polo descreve as cidades que conheceu em suas navegações ao imperador mongol Kublai Khan, encontro esse que realmente existiu, na realidade o pai do verdadeiro Marco Polo mudou-se de Constantinopla para o extremos oriente onde conheceu Kublai Khan Enquanto Marco Polo ainda era pequeno, no final dos anos 1290, não tenho grande conhecimento sobre isso mas é fato conhecido que os Polos viveram por muito tempo na China e Marco fazia suas viagens e meio que trabalhava para o imperador, já idoso.
Enfim, a parte realista da história termina por aí, pois cada capítulo do livro é Marco descrevendo alguma cidade para o imperador, cidades essas que não existem nem jamis existiram, pelo menos não como cidades, ele utiliza o nome cidade para descrever tipos de pessoas, caráteres, crenças, culturas, costumes e manias, e nessas descrições ele faz críticas, algumas veladas e outras bem explícitas sobre o comportamento humano.
A narrativa do autor é envolvente e como o autor diz:
"Chega um momento na vida em que, entre todas as pessoas que conhecemos, os mortos são mais numerosos que os vivos. E a mente se recusa a aceitar outras fisionomias, outras expressões: em todas as faces novas que encontra, imprime os velhos desenhos, para cada uma descobre a máscara que melhor se adapta."
Em cada cidade tentamos encontrar semelhanças entre o que é descrito com a nossa personalidade ou a personalidade de alguém conhecido, ao mesmo tempo que reavaliamos o nosso modo de agir, quando ele fala de cidades regidas pelo desejo e egoísmo.
É meu primeiro contato com o autor e devo dizer que adorei a forma que ele narra, não sei se foi específico do personagem do Marco Polo, mas ele tem uma voz poética e mesmo que de certa forma cause reflexões profundas fazendo com que a gente reveja nossos conceitos ele também acalenta o coração do leitor com a fluidez e sua brincadeira com as palavras.
É um livro maravilhoso, delicioso de ser lido e ainda impactante e reflexivo. Depois de ver a Tatiana Feltrin rasgando a maior seda para esse livro eu tinha grandes expectativas, e não me decepcionei, mas talvez por isso eu não tenha chegado a me surpreender, só por isso não classifiquei como favorito.
Oi Rudi, fiquei interessada por esse livro (detalhe: ele nunca me chamou - nem autor nem livro - atenção antes). Parabéns rss - mais um para ler.
ResponderExcluirAbs.
Achei que você ia me xingar por confundir os Calvinos hehe
ExcluirNada, quem nunca.
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