domingo, 16 de julho de 2023

[Opinião] O Condenado - Graham Greene #517

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Editora: Biblioteca Azul (Globo Livros)

N° de Páginas: 328

Quote:
"Ficou ali dentro, no escuro, com a navalha na mão, procurando arrepender-se. Quis pensar em Spicer e em Fred, mas seu pensamento não ia além da esquina onde seus perseguidores poderiam reaparecer. Descobriu que não tinha energia para se arrepender."

Opinião:
  Escolhi este livro para ser meu livro de junho do desafio MSL, que seria um livro que falava sobre decisões difíceis porque na sinopse dele fala que o protagonista, Pinkie Brown (falaremos mais sobre esse nome logo, logo) era um garoto, líder de gangue que comete vários crimes enquanto lida com uma moça apaixonada, enfrenta dilemas morais de um casamento sem a bênção de Deus e tenta conquistar o respeito do resto da máfia... Mas não é exatamente isso que encontramos aqui. Os fatos sim, mas os dilemas do protagonista são diferentes dos que a sinopse leva o leitor a pensar.
  Pinkie Brown é um nome interessante, ao olhar pra ele você enxerga duas cores: rosa (pink) e marrom (brown) e vai mostrar muito bem a dualidade desse personagem, o rosa representando sua ingenuidade e, em certo sentido, inocência, sendo um jovem de 17 anos, ainda totalmente imaturo nas questões adultas em sua essência, com a aversão ao sexo de uma criança que ouviu falar mas tem a estranheza e repulsa comum da infância (que vem se perdendo, mas que é importante para manter a pureza). E o marrom representando o homem bruto e sujo que ele tenta se provar ser, que comete crimes e despreza a tudo e a todos.
  O livro começa com a perseguição de Hale, um jornalista que tenta fugir da punição que Pinkie e seu bando planejam para ele, nessas tentativas ele vai conhecer Ida Arnold, que já aviso que é a melhor personagem do livro, com larga vantagem... Enquanto anda com Ida, que é uma espécie de prostituta, mesmo que não seja exatamente isso, para usá-la como escudo, já que não vão atacá-lo tendo uma testemunha, vemos seu desespero crescer, e em um breve momento de ausência da parte de Ida, Hale encontra seu fim. Ida então vai passar o restante do livro investigando o que aconteceu com Hale, mesmo que sua morte tenha sido considerada como "causas naturais".
  Para encobrir esse crime, o bando de Pinkie deixa algumas pistas falsas que acabam envolvendo Rose, uma garçonete de 16 anos que acaba desenvolvendo uma paixão doentia por Pinkie, que para calá-la resolve se casar com ela, mesmo com todo o desprezo que ele sente pela mesma.
  Vários crimes são cometidos e muitas conversas extremamente interessantes são construidas. É um livro lento (como todos os do autor que li até hoje), que vai passear nos temas comuns de sua obra, a crença, muitas vezes distorcida, e a decadência do ser humano. Vai falar muito sobre a dualidade, a vida de aparências, a paixão doentia e obsessiva da juventude. Sobre como a verdade, muitas vezes, é bem diferente do que é mostrado, além de sentimentos reprimidos e a barganha com a fé, Pinkie se diz católico, apesar de acreditar muito mais no inferno do que no céu:
"'Claro que é verdade!', disse o Garoto. 'Que mais poderia haver? [...] Pois se é a única coisa aceitável! Esses ateus não sabem nada. Está claro que existe o inferno. Chamas e maldição, [...] tormentos.' 'E o céu também', disse Rose com ansiedade, enquanto a chuva caía interminavelmente. 'Ah! Pode ser, pode ser...'"
  Em vários momentos Pinkie se lembra do que um padre lhe disse uma vez, que entre a cela do cavalo e o chão um jóquei tem tempo de se arrepender e ser perdoado se esse arrependimento for real, então ele vive a sua vida da pior forma possível, satisfazendo desejos que nem são realmente dele pensando que nos segundos que antecederão sua morte ele poderá se arrepender e não ir para o inferno.
  O livro tem um clima sombrio que vai durar até o fim da história, se tornando ainda mais obscuro conforme as páginas vão passando até chegar ao final que é bastante cruel, algumas coisas eram previsíveis enquanto outras nos deixam com um gosto amargo na boca.
  Um livro cru, corajoso e indigesto, mas que nos faz refletir sobre como levamos a nossa vida e quantas vezes ignoramos a realidade achando que haverá tempo para corrigir nossas rotas, mostrando que há muito lobo em pele de cordeiro, e que as vezes nós é que somos o lobo.
 

 



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