quarta-feira, 9 de agosto de 2023

[Opinião] Conversa no Catedral - Mario Vargas Llosa #524

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Editora: Alfaguara

N° de Páginas: 581

Quote:
"Não querem mudar a política, vão fazer a mesma coisa quando chegarem ao poder."

Opinião:
  Este livro entra com louvor para o hall dos livros mais malucos e difíceis que já li.
  Não porque a história em si seja nonsense ou difícil de entender, isso tudo é bem simples, na realidade. O que torna o livro uma leitura desafiadora é a forma como o autor escolhe contar essa história.
  Aqui conhecemos Zavalita, que também será chamado de Santiago, que vai encontrar Ambrósio, que também tem alguns apelidos, mas isso está longe de ser o que mais deixa a gente perdido durante a leitura... enfim, esses personagens vão se reencontrar, depois de muitos anos sem se ver, e sentados em uma mesa do bar Catedral vão falar sobre o passado.
  Ambrósio foi motorista do pai de Santiago em um passado distante, quando este era um empresário muito mais bem sucedido do que é atualmente.
  Mas enfim, o que teriam, esses dois personagens, para conversar no barzinho por mais de 500 páginas? A conversa deles é para relembrar o passado e a vida de ambos, em especial a do Santiago. Na época sobre a qual eles vão conversar acompanhamos, de forma completamente não linear, vários anos da vida deste protagonista, numa época de confusão política no Peru, onde o povo estava dividido entre extrema direita e extrema esquerda... um lugar bem tranquilo de se viver, não é mesmo? Até porque ninguém se tocava que os extremos eram tão semelhantes que se confundiam entre si, como acontece desde que o mundo é mundo e continuará sendo, já que, bom... é assim que é.
  Quando Santiago é jovem ele resolve seguir a carreira de jornalista, para isso vai para a faculdade entra no partido comunista e renega a fortuna do pai... mas renega daquele jeito né... vira e mexe pede dinheiro pro irmão, inclusive chega a dizer em determinado momento que não precisa de um bom emprego, se precisar de dinheiro os irmãos podem arranjar para ele.
  Mais do que a formação e emburrecimento de Santiago também acompanhamos Ambrósio e seu dia a dia, incluindo os empregos que teve depois que deixou de ser motorista do pai de Santiago, além de vários outros personagens ali do meio empresarial, político e do submundo do crime... basicamente tudo que acontecia com todos que viviam ali na região do bar onde eles estão agora conversando. Bar este que é quase um personagem também. Tudo isso sendo narrado nesta conversa, que ora um fala ora outro, tudo de memória, coisas que presenciaram, eventos dos quais participaram ou, até mesmo, coisas que ouviram falar na época.
  O que torna o livro desafiador na tarefa de acompanhar a narrativa, é que esse passado que vai sendo reconstruído, troca entre os dois narradores, além de avançar e voltar no tempo, ainda com intromissões do que acontece no presente, enquanto eles conversam... tudo isso de uma linha para outra, sem qualquer aviso prévio, então a coisa mais normal do mundo, é você se perder algumas, ou várias vezes, durante a leitura.
  Longe de mim querer desmotivar quem se interessar por este livro, porque além de passear pelos eventos desse período complicado da história política do Chile, algo que realmente aconteceu, aqui também vamos acompanhar a vida desses dois protagonistas, como já disse, com mais ênfase no Santiago, que é meio que um alter ego do próprio Llosa, e uma bela história de investigação, com muitas reviravoltas de explodir a cabeça. 
  Em determinado momento dessa conversa ele irão falar sobre o assassinato de uma cantora de cabaré, assassinato esse que Santiago, como jornalista, vai se embrenhar fundo para investigar, e descobrir muita coisa sobre pessoas próximas a ele. Se só essas descobertas já não tivessem feito sua cabeça (e a de quem está lendo o livro) rodar, Ambrósio vai fornecer, assim como faz em outros assuntos abordados, sua versão da história, revelando acontecimentos que preenchem as lacunas do que Santiago sabe, tornando tudo ainda mais mirabolante e aumentando muito o peso dramático dos fatos.
  Além de tudo isso é ótimo ver Santiago quebrando a cara até virar (ou não) gente.
  Considerado por muitos a obra prima do autor e por ele mesmo o livro que mais deu trabalho para ser escrito, é um dos livros mais interessantes que tive o prazer de ler, a superfície parece ser de concreto, mas depois que você consegue mergulhar você simplesmente não vai conseguir largar. É meu segundo contato com a obra do autor, e logo depois da leitura confesso que achava O Herói Discreto um livro superior, mas depois de refletir bastante acho que prefiro este, o que não diminui o mérito do outro livro, mas acho que a imersão no enredo e a criação dos personagens é mais cativante aqui, sem falar que a forma maluca como o autor escolheu contar essa história.
  É desafiador, sim. Mas vale a pena.

Nascido em uma família de classe média, único filho de Ernesto Vargas Maldonado e Dora Llosa Ureta, seus pais separaram-se após cinco meses de casamento. Com isto o menino não conheceu o pai até os dez anos de idade. Sua primeira infância foi em Cochabamba, na Bolívia, mas no período do governo José Luis Bustamante y Rivero, seu avô obtém um importante cargo político no governo, em Piura, no norte do Peru, e sua mãe retorna ao Peru, para viver naquela cidade.
Em 1946 muda-se para Lima e então conhece seu pai. Os pais reconciliam-se e, durante sua adolescência, a família continuará vivendo ali.
Ao completar 14 anos, ingressa, por vontade paterna, no Colégio Militar Leôncio Prado, em La Perla, como aluno interno, ali permanecendo por dois anos.

 


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