domingo, 20 de agosto de 2023

[Opinião] O Original de Laura - Vladimir Nabokov #527

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Editora: Alfaguara

N° de Páginas: 295

Quote:
"O romance Minha Laura foi iniciado logo depois do final do caso amoroso que narra, foi completado em um ano, publicado três meses depois e prontamente despedaçado por um crítico de um jornal importante. Sobreviveu severamente e com o acompanhamento de grunhidos abafados da parte das Parcas bibliômanas, suas protetoras invisíveis, infiltrou-se no alto da lista de mais vendidos e depois começou a escorregar, mas parou a meio caminho no gelo vertical. Uma dúzia de domingos se passou e tinha-se a impressão de que Laura havia de alguma forma grudado no sétimo degrau (o último respeitável) ou que, talvez, algum agente anônimo trabalhando para o autor estivesse comprando toda semana os exemplares necessários para manter Laura ali; mas veio o dia em que o alpinista acima perdeu pé e despencou, deslocando os números sete, oito e nove num colapso geral além de qualquer esperança de recuperação."

Opinião:
  Chamar esse livro de inacabado chega a ser um eufemismo. Afinal o livro só foi iniciado.
  Como é um tanto difícil falar sobre a história narrada no livro vou deixar isso pra depois e falar um pouco sobre a história do livro, que é até mais interessante, na minha opinião.
  Vladimir Nabokov é um autor singular, este é o terceiro livro que leio dele e é inegável a habilidade narrativa que ele tem, poucos autores tem tanto domínio das palavras e da construção de personagens e enredo, depois de vários livros publicados ele começa a trabalhar, já bem passado dos 70 anos e com a saúde não muito em dia, em seu novo livro, O Original de Laura, criou as fichas muito bem organizadas, numeradas e tudo, com o esqueleto da história, mas antes de poder dar corpo para a história ele acaba hospitalizado, antes de falecer ele pede para a família para que o livro seja destruído, ou melhor, para que as fichas com ideias para o livro fossem destruídas...
  Isso tudo nos é explicado por seu filho Dmitri na introdução do livro. Esse mesmo Dmitri, depois de mais de uma década da morte do pai, em meio a tantas enrolações para destruir as fichas, ele resolve publicar, mesmo que o último desejo de seu pai fosse o oposto, só isso já considero uma falta de respeito com o escritor, mas enfim... ele diz que a história já estava avançada o suficiente para ser compreendida pelos leitores (marromeno, como eu disse, não chega a ser uma história, são fragmentos de ideias) e que era um livro que merecia vir a público... pra mim ele só quis ganhar mais dinheiro usando as fichas do pai como um belo caça-níquel, ele sabia que venderia e com o pai morto, pra quem iria o dinheiro dos direitos? Então...
  Não que o livro seja ruim, longe disso... mas não chega a ser um livro, é só uma ideia, o trecho que separei acima já explica muito sobre o que é o livro, tem algumas outras coisas, mas o cerne do livro é o romance sobre a Laura, é um livro dentro de um livro, onde vamos acompanhar a história narrada no livro, a história de publicação desse livro e a história de um pessoal lendo esse livro, então, se o autor tivesse tido tempo para concluir e lapidar, dá pra ver que seria uma ótima história metalinguística escrita com toda a habilidade que quem já leu algo do autor já conhece. Eu gostaria muito de ter visto essa história concluída.
  Vemos também algumas... ligações/ referências a outras obras do autor, como não li tanta coisa assim dele, identifiquei algumas referências de Lolita, como, por exemplo:
"Seus amantes glamorosos foram então substituídos por um inglês velhote mas ainda vigoroso que buscava no estrangeiro refúgio dos impostos e um lugar conveniente para suas transações não exatamente legais no tráfico de vinhos. Ele era o que se costumava chamar de Charmeur. Seu nome, sem dúvida adotado, era Hubert H. Hubert."
  Não tem como ler isso e não lembrar do Humbert Humbert, o narrador galante e desprezível de Lolita.
  Outro detalhe é a forma como esse livro foi publicado, ele te quase trezentas páginas, mas cada ficha de anotações do autor ocupam duas páginas, e as maiores não chegam a dez páginas. a foto da ficha original n página da direita, e a transcrição traduzida na página da esquerda, o que é interessante para vermos as rasuras e a letra original do autor, mas também serve para tornar o livro mais volumoso, essas (quase) trezentas páginas não seriam nem trinta se este fosse um livro impresso como um livro comum.
  Basicamente é um "livro" interessante, para quem é fã do autor acho que vale a experiência, mas se você nunca leu nada dele, não acho que seja uma boa porta de entrada em sua obra.

Vladimir Nabokov nasceu em 1899, em São Petersburgo (Rússia), numa família da antiga aristocracia. Em 1919, a instabilidade produzida pela revolução bolchevique obriga a família a abandonar a nova União Soviética e ir para a Inglaterra. Nabokov estuda em Cambridge até 1922, licenciando-se em literatura russa e francesa. Em seguida, muda-se para Berlim, onde dá aulas de tênis e inicia sua produção literária. "Lolita" é seu principal romance.
Em 1926, após publicar poemas e contos, lança seu primeiro romance, "Machenka". Depois de uma estadia em Paris, fugindo dos exércitos nazistas, chega em 1940 aos Estados Unidos, onde se dedica ao ensino de literatura russa em várias universidades além de trabalhar no departamento de entomologia (o estudo dos insetos) em Harvard.




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