N° de Páginas: 171
Quote:
"Será que era possível evitar algo do que aconteceu? Naquela hora lembrei-me das palavras do padre com quem me encontrei no trem a caminho do Cairo: 'Meu filho, no final das contas, todos nós viajamos sozinhos'."
Sinopse:
Este romance denso e evocativo, com lances da lírica árabe, narra as viagens e visões de Mustafá Said, dilacerado entre dois continentes. Trata-se de uma complexa sondagem na alma humana, que é também uma reflexão sobre o colonialismo britânico na África e uma crítica implacável aos governantes do Sudão pós-colonial.
Opinião:
Tendo a gostar bastante dos livros que se passam ou são escritos por autores do oriente médio, e tenho certa fascinação pelo mundo árabe, então depois de me proporcionar a incrível experiência de ler um livro de origem indiana com O Xará e também um de origem iraniana com O Alforje, agora sou levado para o Sudão com esse livro (cujo o kit da TAG me levou a desenvolver um gosto por chá de hibisco com cardamomo).
Aqui temos um protagonista/narrador sem nome (uma coisa bem Murakami, só que não), que sai do Sudão para estudar literatura na Inglaterra, depois de concluir seus estudos ele volta para a sua vila de origem com o nariz lá em cima, ao chegar ao seu povoado descobre que um certo forasteiro está protagonizando a maioria das conversas de seus conterrâneos, um tal de Mustafa Said.
Ele então se aproxima de Mustafa querendo saber, "qual é a dele", a princípio ele me pareceu bem invejoso, pois esse cara recebia mais atenção do que ele, um intelectual nativo (e realmente recebia, inclusive do autor, que deu um nome para o dito cujo e não para o protagonista). Mustafa resolve contar sua história para nosso protagonista, por que? Sabe Deus, mas ele resolve se despir de sua aura misteriosa e revelar cada detalhe do seu passado.
Ficamos então sabendo que Mustafa também é sudanês, e também foi estudar no exterior, primeiro no Cairo e depois na Inglaterra, mas Mustafa era ressentido com os britânicos devido ao colonialismo
de seu país, então ele resolveu engendrar um plano de ação que visava... não sei direito o que ele visava, mas ele ia se aproveitar de toda a sua lábia e aparência exótica para seduzir as mulheres inglesas, mulheres essas que acabavam se suicidando, com exceção de uma.
Boa parte do livro é a narrativa de Mustafa contando sua história, com todos os detalhes picantes e desnecessários das suas táticas de sedução, e dos seus atos depois que as mulheres já estavam seduzidas, mas depois de contar toda a sua história um novo mistério surge para dar prosseguimento a história, mas o protagonista passa o restante do livro refletindo sobre a história que ouviu, até porque alguns eventos meio que ligam a vida dos dois.
A narrativa do autor é deslumbrante, ela tem uma cadência meio poética, meio musical, não sei direito como definir, mas é uma delícia de ler. Na revistinha que veio com o livro fala maravilhas do livro, como era de se esperar, entre elas ligações com Otelo e uma incrível demonstração dos costumes árabes e africanos dos anos 1960, além de falar que este é considerado o livro mais importante de língua árabe já escrito.
Enfim, é um livro que, de uma forma geral, é realmente muito bom, uma história interessante, com pano de fundo histórico e cultural muito acentuado e uma narrativa fantástica, o título também tem seu significado, falando de um povo que não se sente mais em casa na sua própria terra, não sabe pra onde ir nem se deve ir para a algum lugar, um povo que não tem um norte.
Só tirei uma estrela porque as descrições de coito acabaram me deixando desconfortável em alguns momentos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário